Cunha deu um tiro no pé

O deputado afastado Eduardo Cunha durante pronunciamento - Foto: : Lula Marques/AGPT
O deputado afastado Eduardo Cunha durante pronunciamento – Foto: : Lula Marques/AGPT

Nunca se viu tanto abuso.

Nunca antes um réu, afastado do mandato de deputado e da presidência da Câmara desrespeitou e peitou tanto o STF quanto Eduardo Cunha.

O seu showzinho de ontem foi mais um capítulo dessa novela deprimente que poderia se chamar “Que réu sou eu”?

Não por coincidência ele voltou à cena logo depois da derrota no Conselho de Ética, do que se depreende que seu intuito foi mostrar que, apesar de tudo, quem manda na Câmara dos Deputados ainda é ele.

Foi tão acintoso que provocou reação indignada de Rubens Bueno, líder do PPS, até anteontem um de seus fiéis aliados, que protestou no plenário pelo fato de seu show-off ter sido transmitido diretamente pela TV Câmara.

“A TV Câmara somente cobre atividades do parlamentares, e Cunha está afastado das atividades parlamentares” reclamou ele, aos brados, demonstrando claramente que perdeu a paciência com o reincidente.

Não é só Bueno que está “porrr aqui” com Cunha. O PSDB – que é o principal avalista do governo Temer depois do PMDB – ameaça lançar candidato próprio à cadeira de Cunha, em parceria com o PT, o que não faria se não avaliasse que o reinado dele está por um fio, seja por meio de renúncia, de cassação ou de prisão.

Cunha deu, na verdade, um tiro no pé. Ou seja: reforçou os argumentos de Janot, que pediu a sua prisão preventiva ou medidas mais severas justamente porque ele descumpre o que o STF determinou e continua a mandar na Câmara com a mesma desenvoltura e petulância de sempre.

Em vez de ficar na moita, quieto em seu canto, como cabe a um réu atolado em problemas no STF, na Lava Jato e até na Suíça, ele extrapolou, mais uma vez, expondo à execração pública e ao ridículo duas instituições ao mesmo tempo: a Câmara e o STF. 

A sua demonstração de força poderá ser a gota d’água que faltava para Teori Zavaski finalmente acatar a ação cautelar de Janot que está há quase um mês sobre a sua mesa, sem resposta.

Janot oferece, como alternativa à prisão, medidas que efetivamente mantenham Cunha longe das decisões da Câmara, tais como a proibição de se comunicar com deputados e autoridades por qualquer meio, seja telefone, e-mail ou outro qualquer, obrigação de não sair de casa no horário em que se realizam as sessões e ser vigiado por meio de tornozeleira eletrônica.

Se Teori não se indignar como ficou indignado o líder do PPS, vai parecer que Cunha manda não só na Câmara, mas também no Supremo.

E também no governo, a julgar pela reação amistosa de Temer.

Falando a Roberto D’Ávila, em sua primeira entrevista exclusiva à televisão, mais de relações públicas do que de jornalismo propriamente dito, ontem à noite, ao comentar a fala de Cunha, o presidente interino chamou-o de “batalhador”, uma avaliação condescendente demais para quem é, para o STF, um réu; um sério candidato a acertar contas com a Lava Jato e, nas palavras de Janot, “um delinquente”.

Passarinho que come pedra sabe o estômago que tem. 

     

 


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