Não, é um bando de amarelinhos querendo derrubar o governo. Quando os assustados moradores de Metrópolis percebiam, perplexos, que um ser estranho voava sem auxílio de nenhum aparelho, com seus próprios recursos, no céu da cidade, eles se perguntavam: é um pássaro? É um avião? E o narrador do gibi respondia: não, é o Super-Homem. Assim como eles não conseguiam identificar aquele objeto voador não-identificado eu não consigo entender o que são essas pessoas de amarelo que foram passear ontem na avenida Paulista. Saudosistas das Diretas Já? Apaixonadas por carnaval? Torcedores comemorando o hexa? Não, responderia o gibi, são amarelinhos querendo derrubar o governo.
Não sei se conseguiram, mas no final da tarde voltaram para casa exibindo expressões de dever cumprido. Só no Brasil acontece esse fenômeno que os cientistas políticos ainda irão estudar um dia: num regime democrático, as pessoas “querem” derrubar o governo indo às ruas aos domingos usando amarelo, exibindo cartazes e cantando o hino nacional. Querem porque querem. Elas “exigem” impeachment já, numa reedição das Diretas Já. Caberia, então, alertá-las de que naquele tempo lutava-se para derrubar a ditadura e retomar a democracia.
Agora, não, caras-pálidas: estamos na democracia. A arma da democracia é o voto. Nenhum habitante de países que conhecemos pelos jornais como democráticos, sai às ruas para derrubar governo. Pode sair para protestar contra algumas medidas do governo, mas jamais para derrubá-lo. Eles sabem que numa democracia não se derruba governo na rua, mas nos tribunais, quando o governante comete um crime.
Aqui mesmo no Brasil aconteceu em 1992. Ninguém foi às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor e sim para confirmar o processo que já estava nos finalmente. À parte o fato de que desfilar de amarelo aos domingos e bater panelas é inócuo e apenas serve para sair nos jornais e na TV, os manifestantes não se dão conta de que o início de um processo de impeachment é tarefa dos poderes Legislativo e Judiciário, não é instantâneo (portanto não existe impeachment já) e durante o seu julgamento o país tende a caminhar devagar, quase parando, o que vai agravar ainda mais a recessão em que já estamos.
Se os manifestantes desejam mesmo o melhor para o país devem parar de fazer marola pois quanto mais marola maior a chance de o barco afundar. Deixem o Judiciário averiguar se há motivo para impeachment primeiro, deixem deputados e senadores analisarem e se todos eles disserem “sim, há motivo” voltem às ruas, aos domingos, de amarelo. Combinado?
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