Diário da política: Tancredo já era popular quando morreu

Foto: Célio Azevedo/repubblica.it
Foto: Célio Azevedo/repubblica.it

Não concordo com o título da Folha de hoje segundo o qual “Doença e morte fizeram de Tancredo um líder popular no fim da ditadura”. Ele já era popular quando morreu. Quem viveu aqueles tempos lembra-se que 1984 foi o ano dos comícios das Diretas Já em todo o país. Tancredo, então governador de Minas Gerais não compareceu a tantos palanques quanto Ulysses Guimarães, mas esteve nos principais. Tornou-se figurinha fácil em jornais, revistas e noticiários das tevês. Não dá pra dizer que não se popularizou em um ano de viagens pelo Brasil!  Seus discursos eram os mais aplaudidos! Sua figura despertava tanta admiração quanto Ulysses!

Eu e meus colegas repórteres que acompanhamos a agonia do presidente eleito na calçada do Instituto do Coração não fomos surpreendidos pelo anúncio de sua morte, no dia 21 de abril de 1985. Sabíamos que seria inevitável. Nas últimas semanas ele passara por várias cirurgias. Não me recordo se morreu depois da sétima ou da décima primeira. Nosso assunto recorrente era: Tancredo foi operado hoje?

Uma semana antes do desenlace eu consegui entrevistar o cirurgião dele, o dr. Walter Pinotti. Ele me recebeu em seu apartamento, no bairro de Higienópolis. A frase que me disse ainda ecoa na minha cabeça: “Eu salvei Tancredo!” Vocês podem imaginar minha dupla felicidade? Eu tinha um furo e – o que era melhor – um furo que garantia que Tancredo seria de fato o presidente da República em poucos dias! Corri para a redação da Isto É, na Lapa de Baixo, para escrever a matéria que iria encher de esperanças o Brasil. No entanto, como no samba de Tom e Vinicius, a felicidade, tal qual orvalho numa pétala de flor evaporou-se em pouco tempo.  


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