O que Temer deveria ter feito para não ser vaiado na Olimpíada

O presidente interino Michel Temer - Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil
O presidente interino Michel Temer – Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, quando alguns líderes do PMDB ameaçaram romper a aliança com o PT, ele, como vice-presidente da República e presidente nacional do partido, tivesse dito: “Gente, acabamos de nos eleger nessa aliança. Não faz nenhum sentido rompermos com o PT, não houve motivo para isso, vamos ajudar o PT a governar porque somente dessa forma sairemos mais rapidamente da crise econômica e política em que o País se encontra”.

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, quando seu correligionário Eduardo Cunha ameaçou deflagrar o impeachment, ele, por ter ascendência sobre Cunha e por ser vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, o tivesse chamado às falas: “Ô, Cunha! Não faça isso! Fui eleito com os votos da Dilma, assim como os deputados e senadores do nosso partido foram eleitos na aliança com o PT e todos sabemos que ela é uma pessoa honesta, que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Abrir o impeachment vai piorar a crise econômica e política. Sossega o facho”!

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, quando seu correligionário Eduardo Cunha deflagrou o impeachment, tivesse reunido seu partido, por ser vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB e falado: “Meus amigos, o Cunha surtou! Deflagrou um impeachment sem nenhum fundamento jurídico, pois sabemos que Dilma é uma pessoa honesta e não fez nada que justifique essa iniciativa. Peço-lhes que votem contra a instauração do impeachment”.

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, mesmo depois de seus correligionários votarem pela instauração do impeachment, tivesse dito à presidenta Dilma: “Minha cara Dilma, meus correligionários surtaram, votaram a favor do impeachment da senhora, que foi deflagrado pelo Cunha, que surtou antes deles. Mas como sei que esse impeachment não tem motivo, eu me solidarizo com a senhora e não vou fazer nenhum movimento a favor desse processo”.

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, durante a discussão do impeachment na Câmara dos Deputados, ele, por ser vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, tivesse defendido a presidenta, por lealdade e por justiça, e tivesse declarado à imprensa que nem pedalada fiscal nem crédito suplementar são crimes de responsabilidade, inclusive porque ele próprio assinou pedaladas fiscais e, dessa forma, se fosse crime, ele também teria incorrido nesse crime.

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, quando a Câmara dos Deputados decidiu afastar a presidenta Dilma e caberia a ele substituí-la, tivesse dito a ela: “Presidenta, a senhora foi afastada, mas não definitivamente. Sou obrigado a assumir em seu lugar mas, como faço parte do seu governo, dessa aliança que venceu as eleições de 2014, vou manter os ministérios e os ministros da senhora até que o Senado decida se a senhora deve ser afastada definitivamente ou continuar governando o País”.

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada, se, ao assumir o governo provisório, tivesse formado um ministério de homens e mulheres íntegras, comprovadamente capazes e que representassem toda a sociedade brasileira. 

Temer não seria vaiado na abertura da Olimpíada se, diante de tantas evidências de corrupção de seu correligionário Eduardo Cunha, ele o tivesse aconselhado a pedir desculpas à nação, a renunciar ao seu mandato e entregar-se às autoridades para cumprir a pena prescrita na lei.

Mas Temer não conclamou seu partido a não romper a aliança com o PT. Ao contrário, apoiou o rompimento. Não tentou convencer seu correligionário Eduardo Cunha a não deflagrar o impeachment, ficou quieto. Não conclamou seus correligionários a não votarem contra o impeachment, conclamou-os a votarem a favor. Não ofereceu solidariedade nem apoio à presidenta Dilma, ele a abandonou, ele a traiu. Não declarou à imprensa que pedaladas fiscais e verbas suplementares não são crimes de responsabilidade, preferiu omitir-se. Não manteve os ministérios nem os ministros nem o programa da presidenta Dilma. Ao contrário, fechou e fundiu ministérios a torto e a direito. Não escolheu ministros por serem íntegros, capacitados e representarem a sociedade brasileira, escolheu os que votaram pelo impeachment, todos homens, brancos e ricos, muitos deles seriamente envolvidos em corrupção. Não aconselhou Eduardo Cunha a pedir desculpas à nação e a renunciar e entregar-se, mas o protegeu o quanto pôde, cedeu às suas chantagens e até mesmo aceitou suas indicações para o ministério e para a liderança do governo.

E é por isso que Temer será vaiado na abertura da Olimpíada e continuará sendo vaiado durante o tempo que ficar no poder, sempre que aparecer em público.

E deve dar graças a Deus por isso porque a vaia é o menor e mais inocente castigo a que os brasileiros podem e vão submetê-lo, levando em conta todo o mal que fez, faz e fará a este País enquanto continuar no poder.     


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