Tenho muitas dúvidas acerca das fitas com diálogos entre Sergio Machado e Romero Jucá (ontem), Sergio Machado e Renan Calheiros (hoje) e Sergio Machado e José Sarney (amanhã) publicadas na “Folha de S. Paulo” pelo jornalista Rubens Valente. Mas tenho uma certeza: elas podem provocar uma reviravolta política sem precedentes. E até confirmar uma hipótese que levantei apenas por intuição: a de que o STF poderia anular o impeachment, porque revelam claramente o conluio que esteve por trás do processo, pois a frase-síntese das conversas é: “O Michel é o elemento número um dessa solução”.
Me pergunto, primeiro: se foi o próprio Machado quem gravou, como se comenta, com o objetivo de livrar a sua cara e comprometer os “amigos” e as entregou ao PGR por que não tomou ao menos o cuidado de não criar problemas para ele? Pois ele chama Rodrigo Janot e também o STF pelos nomes mais escabrosos:
“O Janot é um filho da puta! O Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Ele acha que o Moro vai me mandar prender, aí quebra a resistência e fudeu. Porque se me jogar lá embaixo eu estou fodido. Ele está insinuando que eu devo fazer delação premiada. E isso não dá, isso quebra isso tudo que está sendo feito. Renan, esse cara é mau, mau, mau. Porque se esse vagabundo me joga lá embaixo aí é uma merda”.
E sobre o STF:
“Eu nunca vi um Supremo tão merda e o novo Supremo, com essa mulher, vai ser pior ainda”.
Agora, o que fica claro na gravação publicada hoje é que Renan é atualmente o rei da cocada preta, exatamente como Machado o define:
“Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo”.
Renan não só conversa com os principais protagonistas da política brasileira, como distribui conselhos à presidente afastada e ao presidente provisório, sabe o que Lula pensa, conhece bastidores da Lava Jato e do STF, é procurado para dirimir dúvidas e não tem dificuldade em revelar suas opiniões contundentes em conversas que seus interlocutores tiveram com ele na certeza de que ficaria apenas entre os dois.
Vejam o que Renan diz sobre o presidente provisório:
“Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito. Negócio de Eduardo Cunha. O Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse ‘porra, também é demais, né’”.
E repete mais adiante:
“Eu disse a ele: Michel, você tem que ficar calado, não fala, não fala”.
Quando Machado pergunta “quem vai botar o guizo nela (Dilma)”? Renan responde de bate pronto:
“Quem conversa com ela sou eu, rapaz”.
Machado pondera que os ministros do STF não negociam com Dilma, Renan sabe o motivo:
“Não negociam porque estão todos putos com ela. Ela disse: ‘Renan, eu recebi aqui o Lewandowski querendo conversar um pouco sobre a saída para o Brasil. O Lewandowski só veio falar de aumento’”.
Quando Machado diz que “ela é uma doença terminal”, Renan cala e, como se diz por aí, quem cala, consente. E revela o que a presidente lhe contou num encontro sigiloso com o presidente da Rede Globo:
“Ela me disse que a conversa dela com João Roberto foi desastrosa. Ele disse que não tinha como influir. E que está acontecendo um efeito manada contra ela”.
Mais adiante Renan diz a Machado que “Odebrecht vai mostrar as contas” e relata uma conversa com Dilma a respeito da renúncia: “Eu disse, ‘não fale, não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer”.
Renan também fala com muito conhecimento de causa acerca de Lula:
“O Lula está consciente, acha que a qualquer momento pode ser preso”.
Machado pergunta: “Delcídio vai dizer alguma coisa de você”?
E Renan:
“Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. O acordo era para ele gravar a gente, eu acho, fazer aquele negócio que o J. Hawilla fez”.
Machado retruca:
“Que filho da puta, rapaz”!
Renan confirma:
“É um rebotalho de gente”!
Sobre Aécio:
“Aécio está com medo. ‘Renan, queria que você visse esse negócio do Delcídio, se tem alguma coisa’. O Aécio disse que eu sou a única esperança que eles têm de alguém fazer o…. (inaudível)’”
Se esses diálogos mostram que dificilmente o próprio Machado seria o autor das gravações, pois ele fica mal com Janot e com o STF e deixa perceber que procura Renan, como havia procurado Jucá e vai procurar Sarney em busca de ajuda, e quem quer ajuda é porque está encrencado a primeira dúvida é: quem é o autor? A segunda: quem repassou as fitas ao jornalista da Folha foi alguém da PGR? Da Lava Jato? Da Polícia Federal? Ou alguém que não tem nada a ver com essas instituições e nem está no Brasil? A terceira: onde está Sergio Machado?
Ah, o que essas gravações também mostram é que contar segredos a Renan é um perigo.
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