Sem Cunha, Temer perde seu protetor

Michel Temer e Eduardo Cunha - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Michel Temer e Eduardo Cunha – Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Eu sei, você sabe, todo mundo sabe, até o próprio Michel Temer sabe que ele não tem a mínima condição de ser o próximo presidente do Brasil, o líder que tem a missão de tirar o Brasil da crise. Não só porque não tem o menor apelo popular, prova é que na última vez que se candidatou a deputado federal só se elegeu na distribuição das sobras de vagas por coligação e não por causa dos parcos 99.046 votos que teve.

Não só porque foi um vice-presidente apagado e no crepúsculo do mandato um traidor evidente, que deixou na mão a presidente que o elegeu, e ninguém gosta de traidores, nem mesmo os que estão esfregando as mãos às vésperas de soltar os rojões por terem conseguido a vitória de Pirro de derrubar uma presidente que é uma ilha de honestidade num mar de lama congressual.

Não só porque ele nunca demonstrou ter qualidades de um líder, nunca foi um grande orador, nunca suas ideias conquistaram corações e mentes, ele sempre foi um “mordomo de filme de terror” (como o apelidou Antônio Carlos Magalhães), um sinistro político que sabe agir nos bastidores e na calada da noite, quando todos os gatos são pardos e ninguém consegue enxergar o que realmente está acontecendo.

Não só porque ele é o sucessor na presidência do PMDB de Orestes Quércia, que nunca foi processado em vida, mas cuja herança bilionária dá o que pensar, ainda que agora Inês esteja morta e a forma como ele conseguiu essa fortuna, tendo sido político a vida toda, não será mais objeto de qualquer contestação.

Não só porque em seu entorno gravitam políticos que não resistem a uma investigação séria e ele mesmo aparece cada vez mais frequentemente citado nas páginas sigilosas da Operação Lava Jato.  

Não só porque tende a chegar ao poder no bojo de um golpe parlamentar cujo líder acaba de ser abatido.

Ele não será o presidente da República nem o líder desse governo tampão porque perdeu seu grande sócio e protetor, aquele que o “elegeu” e que acaba de ser afastado da presidência da Câmara dos Deputados.

Cunha seria não só o vice de Temer e sim Temer é que seria seu vice.

Porque ele tem as características do líder que usa os microfones para mais confundir do que explicar.

Porque ele não tem pudor de mentir, mentir e mentir até convencer de que está dizendo a verdade.

Porque ele tem a audácia e a arrogância dos que mandam.

Porque ele conhece o regimento e tem os melhores advogados a protegê-lo, graças à fortuna que acumulou e pela qual ele só foi incomodado na Suíça.  

 Porque ele tinha a maioria da Câmara dos Deputados, a maioria de dois terços que tem o poder de aprovar não só o que o governo tampão quiser e precisar, mas até mesmo emendas à constituição que poderiam desfigurar a constituição-cidadã de 1988.

A forma como se delineia o governo tampão, cuja cúpula será ocupada por personagens que respondem a inúmeras e pesadas ações penais no STF, e em cujo ministério pintam figuras no mínimo esquisitas, como um pastor da Igreja Universal como chefe do ministério da Ciência e Tecnologia vai provocar, em pouco tempo, o repúdio e a repulsa geral e a popularidade de Temer, que já começa em patamares baixíssimos, vai cair ainda mais e sua tábua de salvação seria o Cunha.

 Sem Cunha a protegê-lo das ruas e dos movimentos sociais que não vão poupá-lo, Temer ficou sozinho e seu governo tampão tende a virar pó.


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