Por mais policiada que seja Nova York, existem aspectos de segurança que não podem ser imediatamente controlados. Pegue-se, por exemplo, o lago artificial do Central Park. Alí habitam monstros de pesadelos. Descobriu-se recentemente que um vasto cardume de “Channa argus” espreita vítimas naquelas águas turvas. Originários da Ásia, particularmente China e Coréia do Sul, sabe-se lá como os chamados “peixes-cabeça-de-cobra” chegaram nas Américas. Gostaram do Novo Mundo, onde a comida é farta e não há predadores. Vão devorando tudo o que encontram pela frente. Uma voracidade semelhante a das hienas, ainda que – ao contrário destas – não sejam dados a gargalhadas.

O terror da lagoa tem boca cheia de dentes afiados e língua. Não falam, graças a Deus, mas suas características os colocam na categoria de terroristas. Peixes, crustáceos, pequenos mamíferos que se aventuram às águas e até tartarugas estão sendo aniquilados em pleno coração de Manhattan. E que ninguém se atreva a colocar a mão no viveiro da peste: arrisca-se a ficar sem ela.

As autoridades não sabem o que fazer. Estão arquitetando um plano de extermínio de eficiência ainda duvidosa. Como acabar com todos os “cabeças-de-cobra” sem também destruir o ecossistema? E o pior: a bestia é capaz de sair fora d´água, locomover-se em Terra Firma e sobreviver alguns dias ao ar livre. Imagine o massacre que pode ser imposto às muldidões que procuram o gramado do parque para pegar um bronze nesse meio de primavera. A mocinha de biquine está exibindo suas apetitosas curvas no Central Park, deitada sobre a esteira, quando é atacada por uma Channa. Não terá sequer o benefício do fundo musical “Dum-dum! Dum-dum! Tum-tum-tum-tum. Parará! Parará!” – que se ouve no filme “Tubarão”.

Espalharam-se cartazes pelo parque alertando aos visitantes sobre o perigo. Num texto axiomático, prega-se aos incautos que não tentem devolver o peixe às águas. É para mantê-los presos em algum recipiente. Como se fosse possível agarrar o bicho sem ficar maneta. Melhor seria recomendar surra de pau grosso em qualquer monstrinho dando banda no pedaço.

Adivinha-se que a praga foi solta no lago por algum espírito de porco. Gente que pegou o bicho para criar em aquário e se arrependeu depois de constatar o apetite do glutão. Foi o mesmo esquema que liberou jibóias e sucuris pelas Everglades, regiões alagadiças da Flórida, onde as cobras estão comendo até jacaré e, quase, um senador que foi inspecionar o problema no ano passado.

E mais temeridades zoológicas estão explodindo nesse mês de maio em Nova York. Depois de dezessete anos hibernando debaixo da terra, as cigarras devem sair, por esses dias, em busca de uma boa bimba. Acasalam e para atrair parceiros gritam a 10 decibéis. São bilhões de sopranas. Mas isso será assunto de uma próxima crônica em Brasileiros.


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