Thamsanqa Jantjie, o falso intérprete na missa campal em homenagem à Nelson Mandela, é personalidade didática. Além de provocar gargalhadas globais, o “Fenômeno”- e podemos chama-lo assim – demonstrou a gigantesca incompetência dos serviços de segurança. Não foram apenas a divisão de Protocólo da Presidência sul-africana e a agência de segurança local que falharam grotescamente, mas todos  orgãos de Inteligência do mundo. E, só por isso, seria grato ao comediante acidental que gesticulou freneticamente durante os discursos. Mas tenho outra gratidão: ele me fez reler a história “O Homem Que Sabia Javanês”, de Lima Barreto.

Comprovou-se com o incidente cômico uma teoria que tenho, e é compartilhada por muitos: a de que todo o aparato de segurança – e as medidas arbitrárias criadas por eles para nos aporrinhar – são absolutamente inócuos. Essa bobagem irritante de tirar sapatos ao passar pela segurança em aeroportos, submeter mulheres e criancinhas à revistas invasivas pré-embarque, a proibição de xampu e vasilhames com dimensões regulares nas bagagens de mão e o irracional confisco de cortadores de unhas nos aeroportos (como poderímos ameaçar a tripulação? Vociferando: “Me dê o controle da aeronve ou te faço uma manicure!”), não passa de brutalidade autoritária sem propósito.

Para que presta toda a xeretice da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), coletando bilhões de conversas telefônicas e emails mundo afora? Não se preocuparam em grampear o smartphone de um homem que ficaria à menos de dois metros do presidente Barack Obama durante um bom período de tempo. Caso o Serviço Secreto da Casa Branca fosse atento como diz que é, teria verificado, juntamente com a NSA, a CIA e outros esbirros do autoritarismo, que Seu Jantjie já foi acusado de assassinato, estupro, roubo, e ainda linchamento de dois homens, presos em pneus e queimados vivos. O homem é a personificação da idéia de “onda de crimes”.

Quando o comissário de polícia de Nova York Ray Kelly e o prefeiro Mike Bloomberg insistem que a meganha pare incautos nas ruas e reviste-os, num flagrante desrespeito a Quarta Emenda da Constituição americana, a história do imbroglio do intérprete vem esbofetear aqueles dois fascista de opereta. Os verdadeiros malucos estão bem próximos do Poder.

O próprio intérprete se diz – em alto e bom som e por gestos hilários – que é esquisofrênico. Caso o Serviço Secreto de Sua Majestade contasse com alguém competente como James Bond, não teria permitido que o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Camaron (parceirão dos americanos no programa de escuta mundial) tivesse ficado à menos de 100 quilômetros do tradutor. Afinal Jantjie passou mais de um ano numa instituição psiquiátrica e só não amargou cana dura porque foi declarado “mentalmente incompentente” pela corte. Isso não foi descoberto pelas seguranças de líderes como a mimosa primeira ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt, passando pela tribufu Angela Merkel, chanceler da Alemanha, até a presidente Dilma.

Porém, e sempre há um porém, em menos de uma semana a imprensa levantou a capivara do gesticulador doido. Não me entendam mal: não estou propondo que a imprensa se transforme em aparato de segurança e repressão. No Brasil isso foi posto em prática e não está dando nada certo: o autoritarismo destes é tão feroz quanto o praticado pelos orgãos de Estado.


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