Bob Dylan em 13 línguas

bob dylan tribute 
O francês Alain Weber é um incansável batalhador pela divulgação da música não ocidental, tendo produzindo dezenas de grupos da África, Ásia e Europa Oriental. Ele também é diretor/curador de alguns dos festivais mais representativos da chamada “world music”, como o Festival Internacional de Música Sagrada, em Fes, no Marrocos. Foi também consultor musical do filme Latcho Drom,  documentário fascinante sobre a música cigana no mundo.

Assim, não é surpresa que tenha passado dez anos reunindo as treze gravações desse disco singular e tão plural, com versões “exóticas” dos clássicos do bardo de Hoboken,  lançado em fevereiro pelo selo Buda Music, também casa da incrível série Éthiopiques. “Procurei artistas que tivessem o mesmo espírito do Dylan, poetas em sua própria cultura”, explica Weber. “Alguns conheciam suas músicas, outros não.” Mas isso claramente não foi um problema, tal a universalidade das letras. A transposição rítmica e melódica é que foi mais complicada, dada as diferenças enormes entre os acordes ocidentais e as complicadas escalas do Leste.

Tudo começou com o grupo que ele acompanha há trinta anos, o Musicians of the Nile, que contribuiu com uma versão tão hieroglífica quanto encantadora da triste Tangled up in Blue. O lamento egípcio, combinado a uma percussão e uma rabeca obstinadas causam forte impressão. Essa gravação foi usada num filme de 2003, Masked and Anonymous, co-escrito pelo próprio Dylan.

O cubano Eliades Ochoa abre o disco com uma leitura cadenciada de All Along the Watchtower, enunciando as frases como se fossem presságios inescapáveis. Já o iraniano Salah Aghili, acompanhado do seu alaúde, entoa Every Grain of Sand com a beleza longeva das preces persas. Corinna, Corrina, vira uma festa animada nas muitas mãos de Taraf de Haidouks, o conhecido grupo cigano; o mesmo vale para Rainy Day Woman # 12&35, com a qual os macedônios da Kocani Orkestar fazem uma farra irresistível.

Há duas versões de I Want You, uma mais diferente que a outra, ambas de algum modo inusitadas para ouvidos não acostumados aos encantos do outro lado do planeta. A Burma Orchestra Saing Waing dá um encanto especial à canção, com seus flautins de brilho forte e alegre. Já o trio feminino de Taiwan, Mei Li De Dao, vai numa linha um pouco mais lenta, quase melancólica. Curiosa mesmo é a versão de Blowing in the Wind, do grupo húngaro/roumani Keg Lang: começa lenta e vai num crescendo, até que parece que estamos num trotar rápido, com o vento fustigando o rosto e entregando sua resposta.

PS: ainda que esta não seja exatamente uma antologia, mas uma compilação, vou considerá-la como a primeira da série Antologias Antológicas. Aguardem!


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