O Oscar é uma festa de aniversário

Não tem bolo, mas os vestidos e penteados das atrizes chegam perto disso. Há palmas e efusivos parabéns. O ritual se repete todo ano. Ganha-se presentes e os presentes são sempre os mesmos, estranhos bonecos dourados e carecas. Há constrangimentos porque algumas pessoas não foram convidadas e constrangimentos ainda maiores porque outras o foram. A música é animada e calculadamente cafona, para não apenas levantar os ânimos, mas também provocar o efeito confortável de familiaridade.

Neste ano, porém, a falta de imaginação do Oscar nesse último quesito foi gritante – e muito irritante. Música não é um objeto decorativo, que ocupa um pedaço do espaço; a música ocupa todo o espaço, inclusive o afetivo. Sex Machine para a entrada de Eddie Murphy e a trilha de Rocky pra anunciar o filme vencedor é coisa que nem festinha de escola faz. Para piorar, os shows mais pareciam espetáculos de circo, só que em exasperante câmera lenta (a boa exceção foi a entrada de Common, o rapper, que também mandou bem nos agradecimentos, e, com ressalvas, a Lady Gaga).

O politicamente correto imperava de tal forma que ultrapassava o espírito militante do realismo socialista. Quase todas as duplas de apresentadores eram formadas por uma loira e um negro ou vice-versa. Os dois atores premiados venceram por papeis de doentes graves e puderam fazer o discurso óbvio. Houve até uma documentarista que falou do suicídio do filho. Na plateia, Tommy Lee Jones não se fazia de rogado e roncava, sempre cutucado pela mulher.

Os comentaristas do canal TNT se esforçavam pra dizer algo de minimamente interessante, em vão, ao passo que o pobre tradutor, aflito com o timing, perdia metade das piadas. Quem apertou a tecla “SAP” se deu melhor, ainda que tenha perdido momentos de humor involuntário.

Pra não dizer que não falamos de flores, no final, tirando a festa (ops), o resultado ao menos foi bacana; Birdman atropelou a caretice e o diretor Iñárritu, simpático, à vontade, sem as habituais imposturas, disse a que veio e conquistou o público. E foi politicamente correto (sim, isso pode ser legal, ainda bem!) sem ser chato ao lembrar dos imigrantes mexicanos maltratados nos EUA. Que viva el México, pois, que o sopro pra apagar as velinhas em 2015 foi fraco.


 


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