Seleção de escritores da Alemanha

Cena do filme O Medo do Goleiro Diante do Pênalti, de Win Wenders, baseado no livro de Peter Handke
Cena do filme O Medo do Goleiro Diante do Pênalti, de Win Wenders, baseado no livro de Peter Handke

Freud é o dez indiscutível na minha seleção de escritores alemães. Ele é aquele que joga de cabeça erguida, charuto na boca, analisando todas as possibilidades do jogo, prevendo os impulsos íntimos do adversário, jogando com o inconsciente da torcida. Cobra falta como ninguém, sempre achando o ponto fraco do goleiro. Se precisar, também entra duro. Mas salienta: uma entrada por trás é apenas uma entrada por trás.

Marx, adepto do jogo coletivo, entra com a qualidade do passe, distribui as jogadas, dá muitas assistências. Goethe, mais romântico, é o que dá espetáculo, joga para o público: pedaladas, chapéus, canetas, bicicletas…seu repertório é vasto e de encher os olhos. Há quem diga que é pouco eficiente, mas treinador algum tem coragem de tirá-lo do time. Detalhe: chora muito na hora do hino.

No gol, Peter Handke, que demonstrou entender do assunto com seu O Medo do Goleiro Diante do Pênalti”. A lateral esquerda é da Nobel Hertha Müller, por seu tempo vivido na Alemanha Oriental. Para a zaga, fico com dois ex-combatentes de guerra: o também Nobel Gunther Grass, consistente nos desarmes e na antecipação das jogadas, e Ernest Jünger, firme quando sob ataque aéreo e também bom nas trincheiras do jogo pelo chão. Para a lateral direita, convoco o filósofo Heidegger, propenso a cair para esse lado, ainda que com relutância.

Os três atacantes: Brecht, Karl Krauss e Nietzsche, três dos maiores críticos da sociedade contemporânea, cada qual a seu modo, com grande poder de infiltração, dribles argumentativos que desmoralizam a zaga adversária e uma pontaria certeira, difícil de rebater.

Pela sabedoria e compreensão do ser humano, o técnico poderia ser mais um Nobel: Thomas Mann. Daria ainda para formar um banco e tanto, com a leveza de Herman Hesse (outro Nobel…), a intuição de Holderlin, Schiller, Novalis ou Stefan George, a imaginação de E.T.A.Hoffmann, o estilo único de Ingo Schulze, a versatilidade de Hans Magnus Ensensberger e a inteligência de Kant, Adorno, Hanna Arendt e Walter Benjamin.


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