Seleção mexicana de livros

foto Alex Régis/ SECOM (13/06/2014)


Há muitas semelhanças entre México e Brasil, no entanto, e infelizmente, a literatura mexicana não é muito conhecida por aqui. Mas há muitos craques entre os livros dos novos astecas.

O maior deles, camisa dez absoluto é o Pedro Páramo, de Juan Rulfo. Batedor de faltas exímio, é capaz das curvas mais improváveis. Discreto, invisível em campo como seus fantasmas, elude a marcação e encontra espaços onde nenhum outro encontraria. Candidato sério a melhor da Copa.

Próximo dele, está o jogo cadenciado, inteligente de Os Filhos do Barro, a obra-prima do ensaio literário, um meio-campista de muito repertório, com visão de jogo ímpar, que se inspira nos dribles espantosos de Baudelaire e nos passes milimétricos de Duchamp, o enxadrista do surrealismo. Outra boa opção é Carlos Fuentes, com Terra Nostra.

No ataque não consigo pensar em ninguém melhor a dupla (o casal, na verdade), Valeria Luiselli e Alvaro Enrigue. Seus respectivos romances Rostos na Multidão e Muerte Súbita (como outros citados, ainda sem tradução) são imaginativos, desconcertantes, capazes de pedaladas repentinas e bicicletas espetaculares. Perigosíssimos para a zaga brasileira.

Entre os volantes, eu escalaria El Testigo, de Juan Villoro, tido como O Grande Romance Mexicano, e por isso, candidato a capitão do time, organizador das jogadas, tranquilizador da defesa e ligação firme com o ataque. E Trilogia de la Memoria, de Sergio Pitol, jogador experiente, também com muito repertório e um senso de humor que pode facilmente desarmar os oponentes.

Entre os zagueiros, não vejo melhor opção que O Búfalo da Noite, de Gullermo Arriaga, livro forte e também bom no cabeceio, além de não ter medo de entrar em divididas. E para uma saída de bola mais refinada, entraria com o clássico moderno Casi Nunca, de Daniel Sada, e seu jogo consistente, que quase nunca comete erros.

No gol, a opção é fácil. Como contra o ataque brasileiro e outros que surgirão no caminho, talvez seja preciso milagres, ninguém mais indicado que os poemas místicos de Sorór Juana Ines de la Cruz, a Fênix Americana, ou a Décima Musa, como também é chamada.

Restam as laterais. Na esquerda, iria com a velocidade, juventude e sutileza no toque de Guadalupe Nettel e seu O Corpo em Que Nasci. Na direita, Os Redentores, de Enrique Krauze, com a vantagem de que ele chuta com as duas pernas.



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