Fón, Fón: Chacrinha, o Musical

"Cachrinha, o Musical"- Foto: Reprodução/Facebook
“Cachrinha, o Musical”- Foto: Reprodução/Facebook

Domingo da televisão no centro da sala. Depois da canja com pastel, lá vinha a confusão. Gritaria, mulheres rebolando, o porquinha da Casas da Banha dançando cha-cha-cha. E o bordão do meu pai: Esse Chacrinha estudou pra médico! E não adiantou nada! Agora, inventa essa falta de educação de se aplaudir com qualquer antes de acabar. Pois é o que acabava era o programa. Chacrinha não chegou a conhecer perfeitamente o corpo humano. Mas era PHD na alma confusa do brasileiro.

Irascível, grosseirão, mal-humorado, atrapalhado. Zoador emérito. Tocava uma buzina e a zorra. Detestado pela gente de mau- humor, amado por quem gosta do simples, dos pequenos prazeres. Chacrinha, senhor dos palcos, patrono e padrinho de tudo que podia ser marginalizado. Como ele próprio, nordestino, voz fanhosa, espalhafatoso. Eternamente na contramão da ordem e dos bons costumes. E é esse Chacrinha que está presente em Chacrinha, o Musical.

A partir da primorosa pesquisa de Carla Siqueira, Pedro Bial fez o roteiro, depois dramatizado por Rodrigo Nogueira. Com direção de Andrucha Waddington, são 22 atores/bailarinos/cantores em cena, se multiplicando nos papéis dos pais, dos filhos, dos amigos, dos chefes e, sobretudo, da fauna e artistas que frequentavam o Cassino e a Buzina. Já houve tempo que Chacrinha vinha em dose dupla,  fantasiado  no maior dos kistchs para aborrecer a mal refinada “elite” brasileira.

Se o roteiro pretende conduzir uma certa evolução de um personagem plano para uma personalidade complexa, o que vemos em ambos intérpretes é a capacidade de dominar a cena . No papel de jovem Abelardo está o ex- promissor ator Leo Bahia que, em Book of Mormon, está melhor do que Josh Gad – o original da Broadway. O Chacrinha fantasiado, gordo, o da pança é interpretado pro Stepan Nercessian, que revive o velho guerreiro. É mimético – o que em outros casos fica caricato, mas aqui ganha densidade.

“O importante para mim, neste trabalho, foi fazer um musical que saísse da caixa, ou seja, algo novo. Só assim conseguiria honrar o espírito do Chacrinha. Dirigir como se fosse um filme, que é a atividade com a qual estou acostumado. Fiz dois planos sequências. Ambos os trabalhos partem do mesmo ponto fundamental, que é a dramaturgia”, explica Andrucha.

A trilha sonora de 60 canções  nos faz vibrar, cantar, bater cabeça e palminha. E o recurso de montar, no segundo ato,  uma plateia de auditório com espectadores escolhidos a esmo funciona muito bem. O clima vira climão, programão. As vísceras desarranjadas que Chacrinha sempre escondeu embaixo  do personagem   agora são expostas nas brigas, nos dramas pessoais.

Mais que tudo, Chacrinha , o Musical mostra que já houve um tempo que o politicamente incorreto nos divertia, encantava crianças, velhos. Ocupava as monótonas tardes de sábado. Trazia-nos alegria. Pois aprendemos sempre: quem não comunica se trumbica.

Ps: E deixou a falta de educação de se aplaudir qualquer coisa no meio da performance! Meu pai ficaria aborrecido de ver que, pelo menos, em uma certa instância a não caretice triunfou! Salve o Velho Guerreiro.

Estamos aqui só relembrando o calouro de ontem. Ninguém menos que o querido Gustavo Kuerten! #GugaNoCachrinha #ChacrinhaOMusical #AventuraEntretenimento

Posted by Chacrinha, o musical on Sexta, 22 de maio de 2015

Ficha técnica

Texto – Pedro Bial e Rodrigo Nogueira
Direção – Andrucha Waddington
Direção de movimento – Alonso Barros
Direção Musical e Arranjos – Delia Fischer
Direção de arte e cenografia: Gringo Cardia
Figurino – Claudia Kopke
Visagismo – Martin Macias
Design de som – Carlos Esteves
Desenho de luz – Paulo César Medeiros

Casting – Marcela Altberg

Elenco – Stepan Nercessian, Leo Bahia, Erika Riba, Mariana Gallindo, Saulo Rodrigues, Mateus Ribeiro, Livia Dabarian, Luíza Lapa, Leilane Teles, Paula Sandroni, Paulo de Melo, Chris Penna, Laura Carolinah, Milton Filho, Diego Campagnolli, Renan Mattos, Tadeu Freitas, Patrick Amstalden,  Pedro Henrique Lopes , Beto Vandesteen, Bruna Pazinato, Jonathas Joba e Pedro Cassiano.

 

Serviço: Chacrinha, o Musical

Teatro Alfa – Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro, São Paulo – SP, (11) 5693-4000 ou 0300 789-3377 (www.ingressorapido.com.br).

Preços:

Quinta e sextas-feiras
de  R$ 50 a R$ 140

Sábados e domingos
de R$ 50 a R$ 180


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