Oito dos 19 presidentes brasileiros chegaram ao poder por meio de eleições indiretas. O marechal Deodoro da Fonseca inaugurou a galeria em 1891, mas não foi o único fardado do gênero. A maioria dos presidentes sem voto direto foi “eleita” durante a ditadura militar. O último, o civil Tancredo Neves, atraiu dissidentes do partido da ditadura e derrotou Paulo Maluf, o candidato dos militares, por 480 votos a 180, e 26 abstenções.
O voto 344, que deu maioria absoluta a Tancredo, aconteceu às 11h34, quando o deputado João Cunha (PMDB-SP) foi ao microfone, no plenário do Congresso: “Voto em Tancredo Neves, na vitória!”. Menos de uma hora depois, o vencedor discursou: “Esta foi a última eleição indireta do País. Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis ao bem-estar do povo”.
Eufóricos, manifestantes subiram até em uma das cúpulas do prédio do Congresso. A comemoração fazia sentido. Chegava ao fim 21 anos de ditadura. E o processo que culminara na eleição de Tancredo tinha demorado mais de uma década. Havia começado em novembro de 1974, quando o general-presidente Ernesto Geisel anunciou uma abertura “lenta, gradual e segura”.
O sucessor de Geisel, general João Figueiredo, garantiu que não mediria esforços para fazer uma abertura política ao seu estilo: “Se alguém for contra, eu prendo e arrebento”. Apesar das ameaças, nem Figueiredo nem a linha-dura militar tiveram como impedir o movimento pelas eleições diretas que se alastrou pelo Brasil. Os congressistas, no entanto, não seguiram o povo.
Depois que a emenda das eleições diretas foi derrotada no Congresso, a saída para a oposição à ditadura foi disputar as eleições indiretas no Colégio Eleitoral, instrumento criado pelos militares para perpetuar o regime. O candidato natural, aclamado nas ruas como o Senhor Diretas, seria o deputado paulista Ulysses Guimarães, mas ele não tinha trânsito com os setores governistas do Congresso.
Quem conseguia se articular com a base aliada do governo e com parte dos próprios militares era Tancredo. Não deu outra. A dissidência do partido da ditadura que não aceitava Paulo Maluf rompeu com o regime, se uniu à oposição e indicou o vice da chapa de Tancredo: José Sarney, que na época era senador pelo Maranhão. O que aconteceu depois é outra história, mas, as eleições indiretas, todo mundo sabe, acabaram em 1985.
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