O presidente João Goulart, o Jango, nunca duvidou que, no exílio, era monitorado o tempo todo por agentes da ditadura. Até desconfiou que espiões tivessem entrado em seu próprio quarto quando sumiram cartas de uma das fazendas que possuía no Uruguai, a Ombu, em Tacuarembó.
Jango não viveu a tempo de saber, mas sua suspeita tinha fundamento. Uma série de documentos, entre eles cartas de Jango, obtidas “de forma clandestina no domicílio” por um espião identificado como Agente B, foi despachada para o Serviço Nacional de Informações (SNI), em Brasília.
Em El Milagro, outra fazenda de Jango no Uruguai, o mesmo Agente B circulou à vontade, fotografando o aniversariante e os convidados da festa que comemorou os 56 anos do presidente deposto. Organizadas em álbum e numeradas, as imagens também tiveram como destinatário o SNI.
Neste dezembro, quando a morte de Jango completa 40 anos, o advogado Jair Krischke lembra que a ditadura monitorava os exilados de forma sistemática. “No caso de Jango, o SNI tinha pelo menos um infiltrado em seu círculo íntimo”, afirma Krischke, que preside o Movimento de Justiça e Direitos Humanos e localizou os informes do Agente B.
A identidade desse araponga jamais foi confirmada. Uma das suspeitas recai sobre o brasileiro Alberto Octávio Conrado Avegno, que vivia no Uruguai e trabalhou para serviços brasileiros de informação, entre eles o da Marinha. Neto e filho de diplomatas, Avegno aproveitava o prestígio e as relações da família para circular entre os exilados brasileiros no Uruguai.
Jango morreu no dia 6 de dezembro de 1976. Na véspera, tinha deixado outra de suas fazendas uruguaias, a El Rincón, em Tacuarembó, rumo à estância La Villa, em Mercedes, na Argentina. Morreu no começo da madrugada, oficialmente devido a um infarto do miocárdio. Há, no entanto, a suspeita de que tenha sido assassinado por envenenamento, o que, quatro décadas depois, é objeto de investigação da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul.
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