O prefeito Francisco Pereira Passos não chegava a se fantasiar de gari, pintor ou pedreiro, mas mudou de forma radical o centro do Rio de Janeiro, entre 1902 e 1906. Inspirado por Paris, que conheceu nos tempos de estudante, ele só pensava em derrubar, limpar, embelezar.
A ideia era higienizar, acabar com a fama de pestilenta da cidade. Isso significou botar abaixo centenas de casas de cômodos, como eram chamados os cortiços. Neles viviam em condições precárias antigos escravos, imigrantes recém-chegados e deslocados internos.
Esses moradores eram expulsos à medida que o maquinário demolidor de Pereira Passos atingia os casarões do centro. Sem recursos, parte desses moradores se instalou na periferia. Outra parte preferiu subir os morros, onde se abrigou em barracos improvisados, mas perto da região central.
No auge do Bota-Abaixo foi aberta a Avenida Central (hoje Rio Branco), com 33 metros de largura e quase dois quilômetros de extensão. Pavimentada com pedras portuguesas, tinha árvores de pau-brasil no canteiro central e tráfego perto de zero. Afinal, os automóveis eram raros.
Logo depois da inauguração, prédios imponentes foram erguidos ao longo da avenida, lembrando de fato Paris. Entre eles, estavam (e continuam até hoje) a Biblioteca Nacional e o Theatro Municipal. Nas calçadas, alheios ao calor tropical, desfilavam homens e mulheres vestidos à moda europeia.
Na prática, a limpeza urbana excludente de Pereira Passos complementou o projeto sanitarista do médico Osvaldo Cruz, uma espécie de ministro da Saúde cuja proposta de vacinação obrigatória provocou uma rebelião popular.
Como se não bastasse, o Bota-Abaixo, executado sem prever moradia para os antigos moradores dos cortiços, acabou provocando o crescimento de favelas por toda a cidade. Até então, só o Morro da Providência estava ocupado, por ex-escravos e por soldados que lutaram na Guerra de Canudos e, na volta ao Rio, não receberam soldo nem alojamento.
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