Tom Jobim, segundo Marcelo Bratke

Nos bastidores das gravações do álbum Getz / Gilberto, em 1963, o saxofonista Stan Getz, o baterista Milton Banana, o diretor musical e pianista do LP, Tom Jobim, o produtor, Creed Taylor, João Gilberto e a cantora Astrud Gilberto, na época, mulher do violonista e um dos destaques do disco – Foto: David Drew Zingg / Verve Records
Nos bastidores das gravações do álbum Getz / Gilberto, em 1963, o saxofonista Stan Getz, o baterista Milton Banana, o diretor musical e pianista do LP, Tom Jobim, o produtor, Creed Taylor, João Gilberto e a cantora Astrud Gilberto, na época, mulher do violonista e um dos destaques do disco – Foto: David Drew Zingg / Verve Records

Pouco antes de morrer, Heitor Villa-Lobos recebeu uma visita do compositor Claudio Santoro. No encontro, Villa-Lobos disse ao amigo: “Agora, que eu vou-me embora, vão ficar no meu lugar você e Tom Jobim”. Villa-Lobos brincou: “E cuidado com o Tom, pois ele é um grande melodista”

De certa forma, podemos afirmar que Santoro e Jobim, cada um a sua maneira, foram herdeiros diretos de Villa-Lobos. Nas Canções de Amor de Santoro, sobre a poesia de Vinicius de Moraes, podemos ouvir ecos de Villa-Lobos mas também de Jobim. Por outro lado, em algumas das obras de Jobim também há elementos que ecoam Villa-Lobos e, inclusive, Santoro.

A música é uma linguagem que passa de geração em geração e vai impregnando as pessoas. Vai se tornando parte do inconsciente coletivo e passa e pertencer a quem as ouve.

Tom Jobim , diferentemente de Santoro, herdou de Villa-Lobos (e de suas fontes de inspiração) aquela mistura entre o Choro e a vanguarda Francesa de Darius Milhaud e a tudo isso acrescentou nuances que vieram do jazz, principalmente o jazz da Costa Leste dos Estados Unidos.

Também herdou de Villa-Lobos o amor pela natureza e povoou sua obra com árvores, pássaros, mares, rios e céus. Como Villa-Lobos, Jobim se voltou ao Brasil. Um Brasil no qual música e antropologia caminham juntos.

De certa forma, Jobim e Villa-Lobos também caminharam juntos. Não no sentido figurado, é claro, mas no sentido de traçarem um caminho, digamos, paralelo na música e no ideal estético. Um na música de concerto, o outro na música popular.

Villa-Lobos era um compositor erudito com alma popular e Jobim, que queria ter sido pianista de concerto quando adolescente, era um popular com espírito erudito.

Como a música, ao meu ver, é uma unidade, depois de tanto contato com a obra destes dois grandes compositores ao longo dos anos, chego a confundir, às vezes, quem é quem, mas deixo esta incerteza de lado, penso nestes dois brasileiros, ambos usando seus chapéus Panamá e fumando seus charutos Havana e penso que a música brasileira é assim mesmo: sem muitas demarcações de fronteiras estéticas; sem antagonismos que se opõem um ao outro.

É uma música que traduz um País miscigenado e bonito por natureza!

CONTEÚDO!Brasileiros
Leia também Tom Jobim: 90 anos de um músico universal 
Leia também um perfil de Marcelo Bratke, originalmente publicado na edição 47 de Brasileiros  

MAIS
Veja entrevista com Claudio Santoro e excerto de apresentação da Sinfonia n° 7, de autoria do maestro brasileiro, disponíveis no Youtube e registradas em 1964, durante o festival Latin America in Berlin – Cultural Latin-American Week
 


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