Considere Donald Trump

Donald Trump, pré-candidato republicado à Presidência dos EUA. Foto: Reprodução/donaldtrump.com
Donald Trump, pré-candidato republicado à Presidência dos EUA. Foto: Reprodução/donaldtrump.com

No começo de abril o candidato Donald J. Trump atingiu a marca de 74% de rejeição entre mulheres americanas e 58% entre homens, segundo o instituto de pesquisas Gallup. Estes patamares coincidem com as verificações da maioria das pesquisas sobre o tema no país. Trata-se da pior marca de um aspirante à Casa Branca na História. Em meio a este repúdio está o establishment do Partido Republicano que ele pretende representar nas eleições de novembro próximo. E mais: 1/3 dos filiados da agremiação declaram que não votaram nele de jeito algum. Apesar disso, o milionário nova-iorquino ainda tem chances de faturar os 1237 delegados necessários para sua nomeação na convenção partidária em Cleveland, entre 18 e 21 de julho.

Parece cada vez mais evidente de que a convenção, não importa o resultado, será marcada por uma guerra fratricida sem igual nos anais da agremiação. Tanto os eleitores de Trump quanto os de seu rival Ted Cruz sugerem muita violência sob uma temperatura de verão que costuma atingir os 33° centígrados naquelas freguesias. Existe o temor de que o partido sofrerá danos que durariam uma década para serem remediados. A não ser, claro, que o nomeado ganhe as eleições majoritárias.

Impossível? É o que acreditam os melhores analistas do país. Os mesmos, lembre-se, que vaticinaram a total inviabilidade da candidatura Trump. Aqueles que consideravam piada inofensiva as aspirações do milionário. A verdade é que, nesta altura do campeonato, ninguém pode afirmar que o próximo ocupante da Presidência não será o republicano. Considere-se: a provável nomeada pelo Partido Democrata será Hillary Clinton. Ela, que os mesmos institutos de pesquisa apontam ser rejeitada por 52% dos eleitores americanos. Trump, em comparação, provoca 59% de narizes torcidos- computados homens e mulheres em nível nacional. São, agora, sete pontos de diferença. Margem esta que pode muito bem ser diminuída, e mesmo extinta, pelo republicano até novembro. Ele demonstrou ser mestre em categorizar oponentes colando rótulos difíceis de serem arrancados. Já cravou o apelido de “Hillary Vigarista” na democrata.

Os republicanos do Congresso mantém em funcionamento o “Select Committee on Benghazi”. Trata-se de comissão parlamentar que investiga a responsabilidade pelo desastre da invasão terrorista do consulado americano na cidade de Benghazi, em 2012, com a morte do embaixador americano no país, além dos membros de sua guarda de segurança. Esta espécie de CPI foi montada em 2014 e até agora não chegou a conclusão final. Hillary Clinton, ex- Secretária de Estado é o alvo principal desta investigação. Ela foi convocada a prestar depoimento que somou 11 horas. Clinton saiu-se muito bem, jogando ao ridículo as tentativas dos membros republicanos da comissão de lhe imputar culpa. Hoje este inquerito já é o de maior longevidade da história do país. Durou mais do que os trabalhos sobre a morte do ex-presidente John F.Kennedy, o escândalo Irã-Contra, a guerra do Iraque, ou a incompetência da assistência governamental após o furacão Katrina. No começo de abril, o líder Trey Gowdy (republicano da Carolina do Sul) anunciou que vai divulgar o relatório no início de julho ou de setembro. Espera-se chumbo grosso contra Hillary, visando especialmente sua candidatura.

Um terço dos eleitores do democrata Bernie Sanders declara que não votará em Hillary. A briga pela nomeação democrata promete seguir até a convenção do partido na Filadélfia, de 25 a 28 de julho. Depois disso haverá união na agremiação, mas os chamados “bernies” provavelmente ficarão de fora. Tome-se como exemplo a atriz Susan Sarandon- fanática seguidora de Sanders- que já disse que não quer saber de Clinton. E mais: declarou que talvez seja bom que Trump vença, pois isso piorará a situação de tal modo que a revolução socialista de Bernie viria rapidamente. Algo semelhante a visão leninista de que quanto pior, melhor.

Trump mudou a chefia de sua campanha depois de verificar que não tinha uma organização nacional com militantes capazes de sustentar sua estratégia. Escolheu para a missão um velho conhecido dos meios políticos. Paul Manafort é republicano veterano de campanhas e um lobista formidável. Sua empresa é conhecida como “Tortures Lobbyist”, ou “Lobista dos torturadores”. Isso porque trabalhou em favor de alguns dos líderes mais sanguinários do mundo.  Jonas Savimbi (Angola), Ferdinando Marcos (Filipinas), Mobuto Seso Seko (Zaire), a junta militar de Myanmar, Viktor Yanukovytch (Ucrânia), o trono da Arábia Saudita, e uma lista enorme de violadores de direitos humanos. Atingiu resultados espetaculares desde o governo Nixon, passando pelo de Reagan, até agora. Trata-se de profissional capaz de jogar para lá de pesado numa campanha.

Os analistas podem achar muito improvável um governo Donald Trump. Os democratas mais argutos, por sua vez, não devem cometer o mesmo erro.


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