A crise hídrica e a coroa do imperador

A Fala do Trono,1873, Museu Imperial O quadro de Pedro Américo retrata o momento em que Dom Pedro II convoca a Assembleia e o Senado em 1872, portanto a Coroa e o Cetro - Foto: Domínio público
D. Pedro II, em tela de Pedro Américo: nenhuma pedra da coroa foi vendida para o combate à seca – Foto: Domínio público

As torneiras secas em São Paulo e o racionamento à vista me lembraram D. Pedro II e sua coroa, incrustada com 639 diamantes e 77 pérolas. A ligação que fiz entre o descaso na gestão da água e o imperador se deve ao jornalista e escritor José do Patrocínio, também famoso como abolicionista.

Há 137 anos, José do Patrocínio embarcou em um vapor no Rio de Janeiro para Fortaleza, com a missão de enviar notícias “exactas e minuciosas” sobre a seca que assolava o Ceará desde o ano anterior. Os artigos, publicados no jornal Gazeta de Notícias, chocaram o Império.

Comovido com os relatos de José do Patrocínio, D. Pedro II prometeu vender “até a última pedra da coroa” para acabar com a seca (e a fome) no Ceará. Para isso, nomeou uma Comissão Imperial, que incluiu até o uso de camelos em seus planos mirabolantes. Na prática, muito pouco foi feito.

Agora que a falta d’água assombra São Paulo, vale lembrar que o governador Geraldo Alckmin, ao contrário de D. Pedro II, não demorou meses para saber que uma “crise hídrica” estava acontecendo. Na verdade, ele escondeu o problema o quanto pode.

Vale também lembrar que a coroa de D. Pedro II continua intacta, com todos os seus diamantes e pérolas, no Museu Imperial, em Petrópolis (RJ).


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