Coluna_EVARISTO
Definitivamente, não deixe de assistir a Consertando Frank, do dramaturgo Ken Hanes. Com direção de Marco Antônio Pâmio, que acaba de ganhar o Prêmio APCA de Melhor Diretor por Assim é, se lhe Parece, ele consegue a proeza de se superar – tal qual Rubens Caribé, vencedor do Prêmio Shell de Melhor Ator pelo mesmo espetáculo.

Dessa vez, Rubens Caribé interpreta o ativista gay e psicólogo Jonathan, casado com um jornalista não muito bem-sucedido, o Frank do título do espetáculo, interpretado pelo não menos brilhante ator Chico Carvalho. Ambos têm a pretensão de desmascarar um famoso psicólogo, supostamente um charlatão, que teria desenvolvido uma polêmica terapia para resolver os conflitos de homossexuais que quisessem se tornar heterossexuais. Frank pretende fazer a terapia com o intuito de se consagrar como jornalista, fazendo uma reportagem denunciando o psicanalista, o Dr. Arthur Apsey, interpretado pelo extraordinário ator Henrique Schafer. Mas Frank não só não consegue enganar o terapeuta, como rapidamente se entrega e se torna seu paciente. E, de quebra, passa a ter como razoáveis os questionamentos feitos nas sessões, o que reflete imediatamente em seu comportamento, atitudes e pensamentos dentro de casa com seu companheiro.

A partir daí, um jogo fantástico de manipulações, revelações, muitas dúvidas e intrigas acontece em cena. Aliás, muito inteligente a composição cenográfica que parece integrar o consultório do Dr. Apsey e a casa de Frank e Jonathan, como se as manipulações de um e de outro pudessem se materializar nos espaços vividos por Frank. Além disso, as vozes do Dr. Apsey e de Jonathan invadindo reciprocamente os ambientes dos rivais tornam ainda mais fascinantes e perturbadores o vaivém de interesses de cada um. E Jonathan também tem os seus, como o de “roubar” os pacientes do Dr. Apsey.

Acusações graves, mentiras e verdades entre os dois psicólogos, enquanto Frank, como um garoto de recados, está ao centro de um conflito que parece não ser o seu. Difícil saber quem está mentindo e manipulando, quando, de fato, ambos os antagonistas acreditam piamente em suas verdades e em suas vaidades. Dialética ainda mais complexa quando o indivíduo, instável e emocionalmente vulnerável, não quer e nem precisa ser “curado” de sua homossexualidade, e tampouco quer ser ativista de causa alguma.

De manipulador fracassado, Frank se descobre manipulado. Então, tenta, sozinho, reverter o embate. E descobrir suas próprias verdades.

Consertando Frank - Foto: Divulgação
Consertando Frank – Foto: Divulgação

Consertando Frank

Teatro MuBE Nova Cultural – Rua Alemanha, 221 – Jardim Europa – Zona Oeste – São Paulo. Até 24 de maio. Sextas e sábados, às 21h30; domingos, às 18 horas.

* Evaristo Martins de Azevedo é crítico de teatro;  conselheiro da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte; e,  jurado do Prêmio Shell de Teatro.


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