Domingo, 15 de março de 1964

O Congresso Nacional, em esboço de Oscar Niemeyer.
O Congresso Nacional, em esboço de Oscar Niemeyer.

O Congresso Nacional começou a trabalhar! Demorou, mas 75 dias depois do réveillon, o ano legislativo de 1964 foi aberto em Brasília, em pleno domingo. No prédio projetado por Oscar Niemeyer, a tradicional polarização entre o moderado PSD (Partido Social Democrático) e a conservadora UDN (União Democrática Nacional) já não existia.

Nas eleições de 1962, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) do presidente João Goulart tinha sido o mais votado. Ainda assim, o PSD continuava com a maior bancada no Congresso. E, para barrar as reformas propostas pelo presidente, em especial a agrária, o partido se alinhava com a UDN.

No Ceará, o deputado pessedista Armando Falcão chegou a formalizar uma aliança entre o PSD e a UDN. Naquele domingo, ele chegou à Câmara dos Deputados acusando o presidente de tramar um golpe de Estado. Dizia que, a pretexto de promover reformas de base, o presidente estaria preparando o terreno para o totalitarismo. “Enquanto o senhor João Goulart for presidente, não votaremos nenhuma emenda constitucional”, ameaçou.

Era uma referência à mensagem presidencial enviada ao Congresso para a abertura do novo ano legislativo. Em um longo documento, João Goulart explicava ponto a ponto suas propostas para “livrar o Brasil da ignorância e da miséria”. Terminava pedindo um “exame desapaixonado” das diretrizes. Equilíbrio, no entanto, era artigo em falta naquele momento da política brasileira.

Deputado pelo PSP de São Paulo, Arnaldo Cerdeira desembarcou em Brasília propondo o impeachment do presidente. Falava em nome do governador paulista, Adhemar de Barros, que logo convocou a imprensa e uma cadeia de rádio para reforçar a ideia. “Esse é o remédio legal, previsto na Constituição, e que poderá ser aplicado ao chefe da Nação, que foi à praça pública pregar a subversão à ordem”, disse Adhemar.

Na noite daquele domingo, Adhemar também ganhou espaço na tevê para defender o impeachment presidencial. Naquela altura, o Brasil de quase 80 milhões de habitantes contava com 1 milhão e 600 mil aparelhos de tevê, oito vezes mais do que em 1960. Na política, a temperatura era altíssima, mas, na telinha, em preto e branco, Jô Soares anunciava um produto que chegava a 20 graus abaixo de zero.

Confira o anúncio de geladeira com Jô Soares:


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