Domingo, 29 de março de 1964

O prédio do Clube Naval, no centro do Rio de Janeiro.
O prédio do Clube Naval, no centro do Rio de Janeiro.

A bandeira do Brasil foi arriada a meio-pau na sede do Clube Naval, no Rio de Janeiro. Era uma forma de protesto dos oficiais da Marinha. Reunidos no interior do clube, eles estavam indignados com o perdão dado pelo governo aos marinheiros que haviam se amotinado na semana anterior. Eles também não se conformavam com o fato de o almirante Cândido Aragão ter voltado a comandar o Corpo de Fuzileiros Navais.

O outro protesto dos oficiais desabou em forma de ultimato no gabinete do novo ministro da Marinha, Paulo Mário Cunha Rodrigues. Depois de uma reunião de mais de sete horas na véspera, os oficiais avisaram ao ministro que não embarcariam nos navios enquanto os marinheiros e o almirante Aragão não fossem punidos. No meio militar, contavam com amplo apoio. Afinal, nas Forças Armadas, hierarquia é tudo.

O principal argumento dos oficiais era que o perdão, “violentando o princípio da autoridade, dificultou e possivelmente impedirá” o “exercício (da disciplina) através de toda a cadeia hierárquica, a bordo dos navios, nos quartéis e nos estabelecimentos navais”. Na prática, a quebra de hierarquia seguida por perdão influenciou muitos militares indecisos, que passaram a ceder aos apelos dos conspiradores.

E o que não faltava era conspiração. À noite, o ex-presidente Juscelino Kubitschek visitou o ministro da Guerra no hospital onde ele estava internado. Juscelino acreditava que a crise política estava incontrolável. O ministro discordou. Ainda assim, Juscelino pediu ao ministro que tomasse as rédeas da situação e neutralizasse a influência dos comunistas no governo. A CIA, a agência americana de inteligência, gravou a conversa. 

Enquanto a Marinha do Brasil mergulhava em conflitos, a companhia de navegação Lloyd Brasileiro tentava conquistar passageiros para seus cargueiros. Em anúncios de jornal, repetia o slogan “Lloyd… Mais Econômico… Mais Brasileiro”. Naquela altura, o bacana mesmo era viajar de avião, por uma subsidiária americana, a Panair do Brasil, que aparecia até em filme estrelado pelo francês Jean-Paul Belmondo.

Confira cenas do filme L’homme de Rio, de 1964, com Jean-Paul Belmondo:


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