Segunda-feira, 30 de março de 1964

O presidente João Goulart fala aos sargentos.
O presidente João Goulart fala aos sargentos.

Os agentes da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, não paravam de bisbilhotar. Um deles, lotado em Belo Horizonte, começou a semana avisando a seu governo que a “revolução das forças anti-Goulart” estava prestes a acontecer, “provavelmente nos próximos dias”. Fez ainda uma previsão sombria: “A revolução não vai ser resolvida de forma rápida e vai haver sangue”.

No Palácio do Catete, onde o presidente despachava quando estava no Rio de Janeiro, o dia não poderia ter sido mais agitado. Havia tempos, ele aceitara o convite para participar da festa de 40 anos da Associação dos Sargentos, marcada para a noite daquela segunda-feira, no Automóvel Clube. Mas a situação política tinha mudado de forma radical.

Era uma temeridade o presidente da República comparecer a uma festa de sargentos, ou seja, de subalternos, quando os ânimos continuavam exaltados por causa da anistia aos marinheiros rebelados. Em seu eterno otimismo, o general Assis Brasil, chefe do Gabinete Militar da Presidência, incentivou João Goulart a cumprir o compromisso. “Manda brasa, presidente”, chegou a dizer Assis Brasil.

O grupo de assessores contrários à ida de João Goulart à festa dos sargentos ficou em desvantagem, mas ganhou um reforço inesperado. Pouco antes de o presidente deixar o palácio, chegou ao Catete o deputado udenista Tenório Cavalcanti. Famoso pela violência, Tenório Cavalcanti andava sempre com uma submetralhadora MP-40, que chamava de Lurdinha. Naquela noite, pediu moderação: “Não vá, presidente”.

João Goulart não só participou da festa dos sargentos, como deixou de lado o discurso escrito em tom comedido e improvisou. “Ninguém mais pode se iludir com golpes contra o governo, com golpes contra o povo. Aqui continuaremos para cumprir com humildade, mas com firmeza, os deveres que nos foram impostos pelo povo brasileiro”, falou o presidente. Naquele momento, parte das previsões do agente americano começava a se tornar realidade.

 

Confira o relatório do agente da CIA em Belo Horizonte (clique na imagem e leia o documento na íntegra):

Clique na imagem e acesse o documento.
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