A primeira reportagem que fiz com dona Tomie Ohtake foi em 2000, perto de completar 87 anos e criando a sua primeira instalação – a obra está no saguão do instituto que leva seu nome, em São Paulo. O texto foi publicado em espaço nobre de um importante jornal diário.
No dia seguinte, recebo, no portão da minha casa, um funcionário dela portando um canudo com uma gravura assinada por Tomie Ohtake e um bilhete de agradecimento pela matéria. Imediatamente, escrevi outro bilhete para ela, dizendo que a obra era linda, mas eu não poderia aceitá-la.
Meses se passaram e eu me desliguei do grande jornal. Assim que ela soube, o mesmo funcionário voltou ao meu portão com o mesmo canudo e outro cartão: “Agora você pode aceitar”. A obra está em casa, a própria dona Tomie esteve lá me ajudando a encontrar um espaço na parede.
Depois, fiz várias outras reportagens com ela, uma delas para a Brasileiros, ao lado de Hélio Campos Mello, nosso Diretor de Redação. Sem intimidade, mas com muitas afinidades, acredito, ela e eu nutrimos uma sincera amizade. Tão sincera que um dia ela pediu ao meu marido que me telefonasse. Eles tinham se encontrado no Instituto Tomie Ohtake, durante uma exposição. E, do outro lado da linha, recebi um pito: “Fernanda, não pode deixar marido bonito sair sozinho, venha para cá”. Obedeci. São algumas dessas deliciosas histórias que coleciono com ela.
A propósito, nunca a chamei de Tomie, sempre de dona Tomie. Ela dizia que não precisava, mas gostava da minha atitude. Era o nosso código, acho. Foi muito bom conhecer dona Tomie.
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