Frank Sinatra e a censura no Estadão

Mais de mil textos foram cortados nas páginas já montadas pela diagramação - Foto: Reprodução
Mais de mil textos foram cortados nas páginas já montadas pela diagramação – Foto: Reprodução

Uma cena impagável dos tempos da ditadura acaba de vir à tona graças a um documentário sobre a censura ao jornal O Estado de S. Paulo. Ela mostra o diagramador Gellulfo Gonçalves, o Gegê, cantando a música Strangers in the Night, sucesso na voz de Frank Sinatra. Só que, enquanto Sinatra louvava o amor, Gegê sinalizava com ironia a presença dos censores, que costumavam chegar nas oficinas do jornal à noite, por volta das 22 horas, para aprovar ou cortar textos da edição prestes a ser rodada.

Durante mais de dois anos – de setembro de 1972 a janeiro de 1975 –, o Estadão e o Jornal da Tarde sofreram censura prévia. Mais de mil textos foram cortados nas páginas já montadas pela diagramação. Detalhe: os espaços não podiam ficar em branco. Em tentativa de indicar os cortes, os jornalistas não substituíam os textos censurados por outras notícias. No Estadão, publicavam versos de Os Lusíadas, de Camões. No Jornal da Tarde, receitas de bolo.

Essa e outras histórias instigantes estão no documentário Estranhos na Noite – Mordaça no Estadão em Tempos de Censura. Dirigido por Camilo Tavares, com roteiro de José Maria Mayrink, o documentário traz 27 depoimentos, entre eles o do jornalista Carlos Garcia, chefe da sucursal do jornal em Recife. Em 1974, Garcia foi preso na capital pernambucana e barbaramente torturado, para contar como funcionava a suposta “célula comunista” na sede do Estadão, em São Paulo.

Assista o trailer do documentário Estranhos na Noite – Mordaça no Estadão em Tempos de Censura:


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