Pedro Álvares Cabral (que era português), e já valeu mil cruzeiros

Se você nasceu antes dos anos 1970, se lembra muito bem dele: o Cabral. Um Cabral valia mil cruzeiros. E lá estava a “foto” dele, qual Washington ou o Barão do Rio Branco. E, na foto, ele era um velho com uma barba branca e longa. Ledo engano.

Pedro Álvares Cabral, que nasceu em Belmonte (seis mil habitantes, hoje) em 1468, tinha, portanto, 32 aninhos quando do Descobrimento (em Portugal, eles dizem achamento) do Brasil. E morreu com 52 em Santarém, não no Pará, mas no Alentejo, lá em Portugal.

Virou nota de mil apenas por ter estado apenas uma vez no Brasil e por apenas dez dias. Entre 22 de abril e 2 de maio de 1500. E saibam que até hoje se discute em Lisboa por que deram a empreitada do achamento àquele rapaz, que era apenas um fidalgo (filho d’algo) da Corte. Fofocas palacianas dizem que era pelo fato de ser casado com dona Isabel de Castro, cuja família tinha lá suas influências em corredores palacianos. Mentira, Pedro e Isabel só se casaram em 1503, depois que ele ficou muito rico, depois de ir até a Índia naquele mesmo maio. Contrabando puro e oficial, com o dinheiro dos portugueses. E mais, Isabel não era irmã da Inês de Castro, aquela que agora é morta. Um pouco de Wikipédia não faz mal a ninguém: Inês de Castro é um episódio lírico-amoroso que simboliza a força e a veemência do amor em Portugal. O episódio ocupa as estâncias 118 a 135 do Canto III de Os Lusíadas e relata o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante. E este D. Pedro não era nem o I, nem o II e muito menos o Álvares Cabral.

Como não confiavam muito no nosso primeiro Pedro como navegador, mandaram junto vários craques da Seleção Portuguesa, inclusive o Américo Vespúcio (que era italiano). Além de Costa Pereira, Eusébio Coluna e outros.

Nesta entrevista mais do que exclusiva, ele fala do Achamento do Brasil, não explica direito porque viajava com 13 barcos e nem para que uma tripulação de 1.500 homens. Colombo, por exemplo, para descobrir a América – muito maior que o Brasil, até hoje – usou apenas três cascas de nozes. Cabral fala de sua suposta relação com Paulo Salim Maluf, fala mal de Colombo e Américo Vespúcio, comenta o vinho tomado durante a viagem de 44 dias do Tejo à Bahia de Porto Seguro. E fala sobre nudez. E homossexualismo.

***

BrasileirosAfinal, seu Cabral, o Descobrimento do Brasil foi por acaso ou intencional?

Cabral – Ora, pois. Naquela manhã de 9 de março de 1500, lá no Restelo, às margens do Tejo, naquela festa toda que foi o embarque… Imagine você que eram 13 navios com 1.500 homens. Sendo que 700 eram bem treinados soldados.

BrasileirosO senhor não respondeu à minha pergunta.

Cabral – Sim, sim, pois naquela balbúrdia, pouco antes do embarque, D. Manuel I (que ainda não era chamado de primeiro, porque ainda não tinha o segundo, percebe?) me chama ao pé da nave e diz: “Ó Cabral, já mandamos esticar a linha do Tratado de Tordesilhas mais para a esquerda, de 100 para 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Se Colombo, que era aquele parvo, chegou a Cuba antes até mesmo do Fidel, tu indo mais ao sul é capaz de encontrar terras, ouro, papagaios e jogadores de futebol. Meta lá a nossa bandeira e mande de volta uma nave com as novas. Depois siga para as Índias”.

BrasileirosMas por que tanta gente? Se minhas contas não estiverem erradas, 1.500 pessoas era três por cento da população da Lisboa.

Cabral – Exatamente.  Dois motivos. Poderíamos encontrar hordas hostis (gostou do hordas hostis?) no Novo Mundo. E, principalmente, para conquistarmos uma cidade na Índia, Calecute. Portugal, como sabes, queria as especiarias, que os italianos, os árabes e os turcos estavam nos vendendo aos olhos da cara.

BrasileirosEntão não foi sem querer. Vocês vieram para descobrir o Brasil.

Cabral – Achar. Até hoje se comemora em Portugal o Achamento do Brasil. Quem procura sempre acha, conhece a expressão no Brasil?

BrasileirosAlguns historiados reclamam do senhor e da sua trupe pelo fato de hoje os deputados e advogados usarem ternos e gravatas. Além dos pastores.

Cabral – Não estou a entender.

Brasileiros Quando o senhor chegou, os índios estavam nus.

Cabral – Da cabeça aos pés. E as moçoilas também.

BrasileirosE vocês, vestidos. Com muitas roupas, botas, sapatos. Sujos e fedendo. Quarenta dias sem banho!

Cabral – Não estou a entender onde queres chegar.

BrasileirosAo invés de vocês tirarem a roupa e ficarem todos nus, preferiram vestir os índios. Poderíamos ser hoje um país com roupas mais tropicais, mais leves e não tão europeizadas como somos. Faz muito calor no Brasil, seu Cabral. Principalmente na Bahia onde o senhor estava.

Cabral – Interessante. Não havia pensando sobre este ponto de vista. Mas veja você. Demos roupas apenas para os homens. As mulheres continuaram peladas. E vou lhe dizer mais. Quando viram o avantajado sexo dos meus homens se encantaram. Vários dos nossos se esconderam nas matas na hora de ir embora. Além de uns três ou quatro degredados que deixamos lá. Lembro-me que já estávamos além das ondas, partindo para as Índias, quando alguns soldados pularam n’água e nadaram para a terra firme. Como disse um historiador português “moças muito moças e gentis, com cabelos muito pretos e compridos a tombar pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e cerradinhas que delas vergonha não pode haver”. (Longa pausa, como se ele estivesse se lembrando das indiazinhas.) Quer dizer que os brasileiros não continuam nus?

Brasileiros E por falar em brasileiro de terno e gravata, qual é a sua relação com o senhor Paulo Salim Maluf?

Cabral – Desconheço. É um brasileiro nu ou vestido? Por que a pergunta?

Brasileiros – No seu túmulo, em Santarém, no altar da igreja tem uma placa de mármore, pesadíssima, onde se lê: “A Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, a homenagem de Paulo Salim Maluf”. Tá lá. Pode perguntar para a indiazinha Giulia Gam que estava comigo quando fui lá, na Igreja da Graça. Seu túmulo no chão e a placa no alto. Nunca ouviu falar dele?

Cabral – Desconheço a pessoa… Uma vez numa ilha nas Caraíbas… Não, não era ele. Nunca ouvi falar em nenhum Maluf!

BrasileirosOK. Vamos falar sobre a sua ossada.

Cabral – Minha ou do senhor Maluf?

Brasileiros Sua. Existem umas dúvidas, uma celeuma, sobre o seus ossos.

Cabral – O senhor prometeu não entrar na minha intimidade. Não quero falar dos meus ossos nem dos meus intestinos.

BrasileirosOsso não é intimidade. O senhor faleceu em 1520, com 52 anos. Seu corpo foi enterrado em Santarém. Seis anos depois, quando morreu sua senhora, a dona Isabel, exumaram o corpo do senhor e enterraram os dois na Igreja da Graça, certo?

Cabral – Onde tem a placa do Mafuz.

BrasileirosMaluf. Mas ainda não tinha. Então, enterraram vocês dois. Três séculos depois, em 1882, houve uma reforma e mexeram no túmulo onde deveriam ter os restos mortais de duas pessoas, certo?

Cabral – Perfeitamente.

BrasileirosPois tinham as ossadas de duas mulheres e de um homem. E, junto, a ossada de um carneiro.

Cabral – O senhor está a brincar comigo! Ora, onde já se viu tamanho disparate! Está encerrada a conversa, meu senhor! Um carneiro, esta é muito boa! No meu túmulo, junto à Bel!!!

Brasileiros Está no Google, senhor! Dizem que os túmulos podem ter sido remexidos durante a invasão de Napoleão no começo do século 19.

Cabral – Não tenho mais nada a dizer! E o Bonaparte não teria nenhum interesse em mexer nos meus ossos. Se ainda fossem do João.

BrasileirosQue João?

Cabral – O VI, o fugitivo! Dom João VI.

Cabral levantou-se, pegou uma garrafa de vinho tinto Pera-Manca e serviu duas taças.

Cabral – Não falemos mais do passado. Mesmo com essas baboseiras todas que estás a dizer, mesmo assim sou um bom anfitrião. Este vinho, o Pera-Manca, foi o usado pelos meus homens no Achamento do Brasil.

BrasileirosAgora sou eu que não acredito.

Cabral – Tá no Google. Um dos navios era praticamente um grande tonel.

Riem, brindam e dão um bom gole no excelente vinho.

BrasileirosDizem que dos 13 navios que partiram do Tejo só cinco voltaram depois de passar, pelo Brasil e pelas Índias. E que o senhor trouxe fortunas.

Cabral – Já disse que a entrevista acabou.

BrasileirosMas a sua briga com o Américo Vespúcio e a inimizade com o Cristovão Colombo?

Cabral – Olha, para encerrar, já que mencionaste os dois aldrabões. O italiano Vespúcio estava em um dos meus navios. Queria ser o líder. Um pentelho – conhece a expressão pentelho? –, vivia resmungando que os portugueses não entendiam nada, nenhum cazzo de navegação, que estávamos perdidos em alto mar… Depois, andou voltando para lá. Um cabotino. Ele que começou a chamar aquelas terras de América, em homenagem a ele mesmo. Pode? E o Colombo era outro italianinho metido a engraçadinho. Dizem até que ele era português, porque a primeira ilha que descobriu deu o nome de Cuba, que é uma cidadezinha menor que Belmonte em Portugal. Mas é tudo fofoca. Vespúcio e Colombo eram italianos. Fascistas! E o Colombo só pensava em grana. Sua expedição foi custeada pela coroa espanhola e banqueiros.

BrasileirosComo?

Cabral – Eu não disse nada.

BrasileirosE homossexualismo entre os 1.500 homens, existia? Além do Pero Vaz de Caminha que levou dois adolescentes índios para Leiria, em Portugal.

Cabral – Isso não está no Google. Mais uma taça? O Pero era escritor, pois? Esse pessoal das artes… Tem uns paneleiros, não é mesmo? Mas como escrevia bem! Chegou a ler a cartinha dele?

BrasileirosAdoro a parte dos índios conhecendo as galinhas.

Cabral – Ah, aquela passagem é supimpa! Naquela noite, lá na minha cabine, um dos índios viu um colar de ouro, pegou e apontou a terra firme, como a dizer que lá tinha muito ouro. Valeu a viagem, não é pois? Mais Pera-Manca?

Brasileiros É verdade que estavam todos bêbados quando descobriram o Brasil? Um navio inteiro só de vinho… 44 dias em alto-mar! Dizem que um navio se perdeu entre Cabo Verde e a Bahia. É verdade? Conta mais do Pero Vaz de Caminha com os indiozinhos. Como eles se chamavam?

Cabral – Desliga a maquininha, por favor. Como chama mesmo? Gravador, né? I


Comments

3 respostas para “Pedro Álvares Cabral (que era português), e já valeu mil cruzeiros”

  1. noss e burra mesmo ne ela mesma fas a pegunta e a propria responde ! A certas pessoas que e burra mesmo PIRANHa

  2. gostaria de saber como eram os trajes de pedro alvares cabral e sua esposa isabel de castro , mas nao consigo achar alguem pode me ajudar #meajudem!!!! E para trabalho estou encrencada !!!!

    1. pesquise roupas antigas e sobre a Època. De uma olhada e tu tirarais a ideia baseada nas vestimentas

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