Notícias de um desaparecido político

Foto: Reprodução
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O rapaz de camisa branca, primeiro à esquerda na fila dos agachados da fotografia de presos políticos trocados pelo embaixador americano em setembro de 1969, é o advogado e professor João Leonardo da Silva Rocha. Banido do País, ele voltou para o Brasil de forma clandestina dois anos depois. Viveu com uma identidade falsa até novembro de 1975, quando foi morto e se tornou um dos 210 desaparecidos políticos do Brasil. Quarenta anos depois, o corpo de João Leonardo está prestes a ser exumado, na cidade de Palmas de Monte Alto, no interior da Bahia.

“O primeiro passo será realizar uma audiência pública na cidade, pois a exumação envolve abrir covas que não estão numeradas, de outras famílias”, afirma Ivan Akselrud de Seixas, coordenador do Projeto Direito à Memória e à Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos, que é vinculada à Presidência da República. Foi Seixas quem investigou a trajetória de João Leonardo depois que ele voltou ao Brasil, em 1971, e descobriu que o corpo dele foi enterrado no cemitério de Palmas de Monte Alto. Na época, ele usava o nome falso de José Eduardo da Costa Lourenço.

“João Leonardo viveu primeiro no interior de Pernambuco”, diz Seixas. “Fugiu de Pernambuco, mas acabou perseguido e morto por homens da P2, o setor da Polícia Militar ligado à comunidade de informações.” Na época, a guerrilha já havia sido exterminada no Brasil. Os órgãos de repressão, no entanto, continuavam perseguindo antigos integrantes dos grupos de resistência à ditadura, em especial aqueles que tinham feito treinamento de guerrilha em Cuba, como João Leonardo.

Oito meses antes de ser trocado pelo embaixador americano Charles Charles Burke Elbrick, sequestrado pela guerrilha, João Leonardo tinha sido preso, acusado de integrar o Grupo Tático Armado da Ação Libertadora Nacional (ALN). Quando voltou, integrava os quadros do Molipo, uma dissidência da ALN. Entre os presos trocados pelo embaixador, há outro desaparecido político: o sargento do Exército Onofre Pinto, líder da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a mesma organização do capitão Carlos Lamarca. Na foto histórica, ele é o quarto à esquerda, na fila dos que estão em pé.


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