Você sabia que “Coroné Antônio Bento” não é do Tim Maia?

capa-tim-maia-1970 — Capa do primeiro LP de Tim Maia, álbum de estreia do cantor e compositor, que contém *Coroné Antônio Bento*, de 1970 (Foto: Lay-out por Aldo Luiz / Divulgação Polydor)

Quase 60 anos após a música ser composta, não são poucos os que ainda acham que Coroné Antônio Bento foi escrita por Tim Maia. Suposição que não procede. Na verdade, trata-se de uma releitura de um baião lançado em 1958, Matuto Transviado, com adaptações do título e omissão de uma terceira estrofe original.

Composta a quatro mãos pelo cantor e compositor alagoano Luiz Wanderley e o poeta maranhense João do Vale, Matuto Transviado foi registrada em discos de 10 polegadas e 78 rotações. Nesta quarta-feira, Wanderley completaria 85 anos. Pouco lembrado hoje, interpretando forró, xote, baião, xaxado, coco e boleros, ele fez grande sucesso entre o final dos anos 1950 e o começo dos anos 1970. Morto em 1993, ao longo de sua carreira Wanderley produziu cerca de 30 títulos em 78rpm e um LP, Moço Velho, de grande vendagem, lançado em 1970.

Entre os maiores sucessos interpretados pelo forrozeiro alagoano estão estão Matuto Transviado, Mineiro Sabido (veja o artista em cena do filme Vai, que é Mole), também de sua autoria, Baiano Burro Nasce Morto, de Gordurinha, Cara-de-Pau, escrita a seis mãos com Wilson Batista e Flora Matos, A Marcha do Chacrinha e A Sopinha do Zarur, ambas em coautoria com seu maior parceiro, o compositor Elias Soares.

De Mariá à Juliana
Regravada por Tim Maia no clássico álbum homônimo de 1970, que marcou sua estreia em LP, Coroné Antônio Bento, um funky-baião da pesada, é a canção de abertura do disco. O registro contou com a participação de Camarão, do conjunto vocal Os Diagonais, que alterna as vozes com o saudoso Tião (ouça a canção no link abaixo e perceba as duas vozes).

É d’Os Diagonais – o histórico grupo que reuniu Hyldon, Cassiano e seu irmão, Camarão – a autoria da releitura gravada por Tim. Além da mudança de título, há também alterações na letra, como por exemplo o nome da filha do Coroné, Mariá, na original, e Juliana na versão.
Outro grande diferencial da regravação é a omissão de uma terceira estrofe original, que faz menção ao fenômeno dos “transviados”, alcunha atribuída aos jovens brasileiros que caíam na onda do nascente rock n’roll naquela segunda metade dos anos 1950.

Compare as duas letras, a gravação original e a versão de Tim, e ouça também uma releitura instrumental de Coroné Antonio Bento, lançada pelo Conjunto D’Angelo em 1970, em LP homônimo da gravadora Equipe.

Coroné Antônio Bento

Coroné Antônio Bento
No dia do casamento
Da sua filha Juliana
Ele não quis sanfoneiro
Foi pro Rio de Janeiro
Convidou Bené Nunes pra tocar
Neste dia, Bodocó faltou pouco pra “virá”