Sequestro da Presidência

Donald Trump,  pré-candidato republicado à Presidência dos EUA. Foto: Reprodução/YouTube
Donald Trump, pré-candidato republicado à Presidência dos EUA. Foto: Reprodução/YouTube

A primeira coluna de Coffee Party seria sobre a possível acomodação do Partido Republicano num eventual governo Donald Trump. Os acontecimentos mudaram a pauta. Afinal, naquele começo de abril, não se tinha sequer a certeza de que o bilionário nova-iorquino conseguiria os 1237 votos necessários para sua nomeação. Estava, como se disse na época, muito difícil para o candidato alcançar o número mágico da coroação.

Trump arcava com o repúdio da maioria dos eleitores do partido, para não dizer nada sobre os democratas, e obtinha até então apenas um terço dos votos de sua agremiação. No dia 26 passado, porém, ele finalmente atingiu a marca dos 1237 delegados, com a adesão em massa dos militantes do partido em Dakota do Norte. Vê-se agora que 86% dos republicanos afirmam que irão votar nele nas eleições presidenciais. O homem conseguiu finalmente unificar seus correligionários e está empatado ou com um ou dois pontos percentuais de vantagem sobre Hillary Clinton, a provável nomeada democrata.

Ainda é cedo para se declarar a vitória de Trump em novembro. Mas o que pode acontecer caso ele venha a ocupar a Casa Branca? O homem já demonstrou à exaustão que é imprevisível em suas ações. Restará ao Partido Republicano tentar se acomodar ao novo líder.

Naquela coluna não escrita de Coffee Party se imaginaria um sequestro do governo Trump. A ação principal se daria na burocracia governamental, com tomada do poder em preenchimento dos principais postos. Foi isso que o velho Dick Cheney fez no primeiro mandato do ex-presidente George W. Bush. Apontado para a função de encontrar um candidato ideal para a Vice-Presidência, Cheney escolheu a si mesmo. Imediatamente após a vitória republicana o então Vice correu para colocar gente sua em todos os cargos fundamentais da máquina do governo. Foi do Departamento de Defesa até a Agencia de Meio-Ambiente, passando, claro, pela CIA, Pentágono e até aos postos inferiores, mas muito ativos, do Departamento de Estado onde estava encastelado Colin Powell. A manobra, viu-se depois, transformou-o numa espécie de Cardeal Richelieu do governo W Bush.

Cheney é tido como uma das pessoas de maior conhecimento sobre a máquina do governo americano. Sabe exatamente qual posto- por mais insignificante que pareça- é fundamental para o controle de um organismo. Entende que aquele que ocupa espaço detém o poder. Mas, embora o velho Dick seja craque nestas manobras, não será o único com essa capacidade e visão. Não é difícil para o partido encontrar alguém que trace o mapa de indicações pontuais para o sequestro do mandato Trump.

Na semana passada o diretor da campanha Trump, Paul Manafort, em entrevista ao site Huffington Post, disse que a escolha do Vice de seu patrão é muito importante porque o ungido deverá tomar conta de tudo aquilo que o presidente não terá interesse em fazer. “Ele [Trump] se vê mais como um Chairman of the Board, e não como um CEO ou, muito menos, um COO”, disse Manafort.

O CEO (Chief Executive Officer) é aquele que toma as decisões principais de uma companhia. O COO (Chief Operating Officer) trata das operações do dia-a-dia. Assim, Trump não vai colocar a mão na massa, quer apenas supervisionar e dar ordens. É a figura do cachorro de quintal suburbano: senta no rabo e late. 

O Partido Republicano poderia mandar tranquilo na nação, enquanto o Donald se locupletaria sob os holofotes. Dick Cheney e seu parceiro Donald Rumsfeld estão à disposição para qualquer boquinha.


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