Terezinha. Tereza. Terezão

Houve um tempo em que os seriados da televisão brasileira contavam histórias ingênuas, brejeiras. Uma delas chamava-se o Jovem Doutor Ricardo. Com o Cauã [Reymond] da época, Cyll Farney, havia uma dócil, porém poderosa, enfermeira. Tereza Rachel.

A leonina, nascida a 19 de agosto de 1935, passa da “mocinha” a mulheres inesquecíveis da dramaturgia. Os Fuzis da Senhora Karrar, Gata em Telhado de Zinco Quente, Jocasta.  Blanche Dubois, Bonitinha. Enfrentou a ditadura em Liberdade, Liberdade. Criou um teatro para poder exibir aquilo que se proibia. Desde o inesquecível Gal Costa até Cemitério dos Automóveis, todos os excluídos tiveram vez lá.

Teresinha Malka Brandwain Taiba de La Sierra nasceu na baixada Fluminense, em Nilópolis – berço da Beija Flor, e adotou o nome artístico de Tereza Rachel. Sua carreira se inicia com Aurimar Rocha, no grupo chamado Teatro Jovem, na peça Os Elegantes. Mas é no quebra-pau dos anos 60 que vai, com Fernanda e Glauce, se transformar na grande dama do teatro brasileiro. Prefere os clássicos de todos os quadrantes: Genet, Nelson Rogrigues, Tennessee Willliams, Sófocles, Molière, Tchecov, nenhum gênero e nenhuma dramaturgia ficam de fora.

Fernanda Montenegro (à esq.) e Tereza Raquel, na novela "Baila Comigo", de 1981. Foto: Reprodução/Facebook
Fernanda Montenegro (à esq.) e Tereza Raquel, na novela “Baila Comigo”, de 1981. Foto: Reprodução/Facebook

Atriz visceral, Tereza Rachel entregou a alma. Sua voz, seu corpo são praticamente imolados no palco a cada espetáculo, pois modula a voz e as mãos, na medida certa do que o personagem exige. Misturou vanguarda e tradição, revolução e permanência, produziu, dirigiu, empreendeu. Em 1970, abre o teatro, a quem todos chamam de Terezão.

Na televisão, é outra pegada. Mulheres fortes, malvadas, vilãs; Clo Hayalla em o Astro chega a criar um padrão de comportamento: mulheres que se recusam a envelhecer. Recusam-se a serem chamadas de avó. E assim vai desfilando e o público se apaixonando.

Um Natal qualquer, eis que senão, quando, Tereza Raquel entra em minha sala. Praticamente enche a sala de emoção. Desfilam todas: o desespero de Jocasta, a força de Maggie, a Gata, Maria Luiza de Boca de Ouro.  Já não enchia salas de teatro e vivia praticamente reclusa em seu apartamento em Ipanema. Quase que dependendo da caridade de estranhos.  Mas o porte, a voz, o jeito do cabelo mostravam e denunciavam uma das grandes atrizes do teatro brasileiro. Grandes papéis, enormes atuações, emoções incomensuráveis, prazeres inenarráveis. Como só Terezão foi capaz de nos dar.


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