“Canalha! Canalha!”, gritou o deputado Tancredo Neves quando o presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República, na madrugada de 2 de abril de 1964. Depois de driblar os seguranças de Moura Andrade, o deputado Rogê Ferreira deu-lhe duas “cusparadas cívicas”, como foram classificadas na época.
A impetuosa reação dos parlamentares fazia sentido. Ao anunciar que o presidente João Goulart havia deixado a nação “acéfala” e declarar vaga a Presidência, Moura Andrade comandou uma farsa. Goulart não só estava no Brasil, como Tancredo havia lido na abertura da sessão um comunicado avisando que o presidente tinha viajado para o Rio Grande do Sul.
Um agente da CIA, sem querer, virou testemunha da farsa. Em relato secreto enviado ao governo americano, ele avisa que o “presidente deposto do Brasil” havia deixado Porto Alegre, rumo a Montevidéu, no Uruguai, por volta das 13 horas do dia 2. Ou seja, quase 12 horas depois da sessão fraudulenta, como mostra documento oficial reproduzido abaixo.
Goulart, na verdade, circulou por mais dois dias por estâncias gaúchas, evitando as patrulhas do Exército. Só desembarcou no Uruguai na tarde do dia 4 de abril. Naquela altura, a farsa comandada por Moura Andrade no Congresso já tinha aberto caminho para a instalação da ditadura e para a posse do primeiro ditador, o marechal Castelo Branco.
Quarenta e nove anos depois, a sessão legislativa comandada por Moura Andrade foi anulada pelo próprio Congresso Nacional, em nome da verdade histórica, em 21 de novembro de 2013. Trinta dias depois, o mandato de presidente foi devolvido de forma simbólica a Goulart.
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