Cegueira coletiva

A performance busca oferecer ao público que encare as coisas por pontos de vista não manipulados. Desta vez, usou o impeachment como base de trabalho. FOTO: Tuane Fernandes/Mídia Ninja
Propondo ao público que encare as coisas por pontos de vista não manipulados, o Desvio Coletivo foi à Avenida Paulista com Cegos. Desta vez, usou o impeachment como base de trabalho. FOTO: Tuane Fernandes/Mídia Ninja

O Desvio Coletivo, rede de pessoas ligadas à criação por meio de confluências entre o teatro, a performance e as intervenções urbanas, levou o trabalho Cegos à Avenida Paulista. Originalmente marcada para o dia 23 de outubro, a performance foi transferida para este domingo, dia 30, para não entrar em choque com uma manifestação a favor da Lava Jato. Desde 2012, a rede apresenta essa intervenção em diversas cidades e países. A proposta desta vez foi convidar os transeuntes a uma reflexão sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Dezenas de performers tomaram a avenida em uma ação que chocou muitos do que passavam pelo local. Além de membros do coletivo, também participaram pessoas que se inscreveram em um formulário online. Camadas de argila cobriam paletós engravatados e tailleurs, dando uma impressão de mumificação aos artistas.

Reunidos na altura do metrô Brigadeiro, caminharam em sentido Consolação, realizando intervenções no trajeto. Na escadaria da faculdade Cásper Líbero, os “cegos” leram material produzido pela grande mídia relacionado ao impeachment. Em seguida, rasgaram as folhas com a boca e as mastigaram, em protesto contra a manipulação das informações sobre os acontecimentos recentes da política brasileira.

Mais à frente, estenderam seus braços em direção ao prédio da FIESP, imitando uma saudação nazista. Alguns manifestantes saudosos do golpe de 1964, que estavam no local, juntaram-se ao grupo em forma de pirraça, munidos de cartazes pedindo a intervenção militar. Ao perceber a situação, os performers deram as costas para o prédio e responderam com ironia, levantando cartazes com dizeres como “bandido bom é bandido morto”, “a Lava Jato é imparcial” e outros aclamados pela direita, além da frase “não sou político, sou gestor”, menção jocosa ao prefeito eleito de São Paulo.

A intervenção na FIESP contou ainda com a coroação de um dos integrantes do grupo – colocado como líder da cegueira – com uma faixa presidencial. Agências bancárias da avenida também foram alvo das atividades dos “cegos”, que fizeram reverências e ajoelharam-se diante delas.

Selecionada para o Programa Palco Giratório de Teatro do Sesc em 2014, Cegos é uma produção dirigida por Marcos Bulhões e Priscilla Toscano. O núcleo artístico traz os colaboradores Fernanda Perez, Leandro Brasilio, Marie Auip, Rodrigo Severo e Viny Psoa. Ao todo, mais de mil pessoas, incluindo os artistas fixos e entusiastas, já participaram da intervenção em sete países diferentes.


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