Filme retrata luta de Jean Wyllys contra o preconceito

Foto: Divulgação
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“Pervertido”, “canalha” e “escória” são algumas das ofensas que Jean Wyllys (PSOL) recebe constantemente. Eleito em 2010, Wyllys foi o primeiro deputado abertamente gay a defender a causa LGBT no País. Bom orador, o baiano suscita amores e ódios, tendo recebido mais de 140 mil votos em sua reeleição no ano de 2014.

A rotina de Willys, que já foi capa da 90ª edição da Brasileiros, pode ser conferida no documentário Entre os Homens de Bem. Dirigido por Carlos Juliano Barros e Caio Cavequini, o filme foi exibido no dia 28/1 na Mostra de Cinema de Tiradentes. Logo após a sessão, o documentário foi muito aplaudido pelo público, com gritos de “Fora Temer” e “Me representa”.

Iniciado em 2013, o longa-metragem retrata o cotidiano do deputado federal no Congresso Nacional. Em entrevista a Brasileiros, os diretores contam que passaram três anos acompanhando as idas e vindas de Wyllys por três cidades: Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.  

Quando foi procurado inicialmente pela dupla, Wyllys cogitou não aceitar. Já tendo participado do reality show Big Brother Brasil, ele não se animou com a ideia de ter uma câmera atrás de si novamente. Porém, quando percebeu que não seria um filme sobre a sua intimidade, mas as questões políticas que tocam o País, ele aceitou participar.

O estopim que fez com que os diretores começassem a filmar foi a nomeação do deputado Marco Feliciano (PSC) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. “Quando isso aconteceu, nós percebemos que as coisas no Congresso iriam esquentar”, conta Bastos.

O diretor afirma que o documentário “mostra justamente esse processo, iniciado em 2013, que culminou numa virada conservadora. Tivemos os protestos de Junho, as eleições polarizadas de 2014, a posse do Cunha e, por fim, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff”.

A dupla descreve o documentário como “o prólogo da crise que estamos vivendo”. “O filme mostra os bastidores, as entranhas do Legislativo. Assim as pessoas que não tem muita familiaridade com esse ambiente podem entender como ele funciona”, afirma Cavequini.

Entre os Homens de Bem faz assim um retrato do Congresso Nacional que, para Barros, “tornou-se um terreno fértil para essa figura do não político: o pastor, o empresário e etc. Pessoas como o Trump que defendem uma retórica pragmática baseada na ideia de gerir. Nesse contexto, o termo ‘ideologia’ se tornou quase um palavrão, não existem mais disputas ideológicas. Tudo se torna uma questão de técnica”.

Durante o filme, o público pode conferir as discussões do político no Congresso, como a famosa vez em que cuspiu no deputado federal Jair Bolsonoro (PP) durante a votação da admissibilidade do processo de impeachment. Também há cenas mais intimistas, como a de quando Wyllys se emociona ao assistir ao primeiro beijo gay na novela brasileira.

Barros descreve o deputado como uma pessoa que “tem uma ótima retórica e defende causas civilizatórias. Por conta disso, ele goza de um prestígio tanto na esquerda quanto na direita. O problema foi que, na medida em que a crise política foi recrudescendo, ele foi ficando mais marcado e isolado politicamente”.

Ainda sobre o perfil do político, Cavequini comenta: “Não existe meio termo com o Jean hoje em dia. Ele é amado ou odiado, recebendo inúmeras ofensas por dia. E isso acontece porque ele incomoda, bate de frente mesmo. Num Congresso tão conservador como o nosso, essa postura é muito forte”.

Durante a conversa com a Brasileiros, os dois garantem que o filme não é panfletário. “Fizemos um registro bastante seco da rotina do Jean”, afirma Cavequini. Adversários políticos de Wyllys, os deputados Jair Bolsonaro (PP), Marco Feliciano (PSC) e Pastor Eurico (PHS) aparecem bastante no filme. “Todos eles estão representados no documentário. Agora isso não quer dizer que o filme não tenha um compromisso político”, afirma Barros.

Para os diretores, uma das tarefas primordiais do cinema é fazer com que o espectador se coloque no lugar do outro. “O Jean é um cara que recebe insultos e ameaças constantemente. É um peso que ele carrega e isso está evidente no filme. Tentamos dar conta disso para trazer a questão: Como é ser o Jean Wyllys? E eu te garanto, não é nada fácil”, ressalta Barros.


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