Gilberto Gil celebra 73 anos na estrada com Caetano

Gilberto Gil caminha pelas ruas de Manhattan durante o exílio, em 1971, ocasião em que fez seu primeiro show em Nova York (foto: arquivo pessoal)
Gilberto Gil caminha pelas ruas de Manhattan durante o exílio, em 1971, ocasião em que fez seu primeiro show em Nova York (foto: arquivo pessoal)

Nesta sexta-feira (26), o cantor e compositor baiano Gilberto Gil completa 73 anos. A celebração será em grande estilo uma vez que, nesta quinta-feira (25), ele e o amigo Caetano Veloso deram início, em Amsterdã, na Holanda, a turnê Dois Amigos: Cem Anos de Música, em celebração aos 50 anos de carreira de ambos (o marco zero é o espetáculo Arena Canta Bahia, de Augusto Boal, encenado, em 1965, por eles, Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia).

A série de shows percorrerá 17 cidades europeias, como Londres, Paris, Madri, Lisboa, Milão, Viena, Monte Carlo e Copenhague, e incluirá também, no antepenúltimo destino, a apresentação em Israel que, há meses, tem sido alvo de muita polêmica.

Previsto para ser realizado em 28 de julho, o show em Tel Aviv motivou uma campanha mundial, disseminada nas redes sociais, que pede aos dois ídolos baianos que boicotem o show israelense, em defesa da Palestina. O pedido de cancelamento foi pautado pela ação global intitulada BDS (boicote, desinvestimento e sanções ), que mobiliza milhares de manifestantes contra o que consideram excessos cometidos por Israel contra o povo palestino. O apelo aos baianos ganhou adesão de personalidades públicas como o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1984, e de artistas de renome, como o ex-vocalista e compositor do Sonic Youth, Thurston Moore, e o ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters, que chegou a endereçar duas cartas aos baianos. No Facebook brasileiro, foi criada a página Tropicália não Combina com Apartheid, atualmente com mais de 5 mil seguidores. 

Dias depois do envio do segundo apelo de Waters, Caetano devolveu uma negativa ao contrabaixista britânico: “Eu nunca cancelaria um show para dizer que sou basicamente contra um país, a não ser que eu estivesse realmente e de todo o coração contra ele. O que não é o caso”, argumentou. A resposta veio a público na última terça-feira, 23, na coluna de Ancelmo Gois do jornal O Globo  (leia a carta na íntegra). No dia 06 deste mês, nosso colunista Salem Nasser abordou o assunto no texto Gil, Caetano e Mr. Boycott (leia).

Veja vídeo de Back in Bahia, canção de Gil o show desta quinta-feira em Amsterdã:

A turnê começou aqui em Amsterdam com “Back in Bahia”. Veja abaixo o SETLIST de “Caetano & Gil – #DoisAmigosUmSeculoDeMusica “:01 Back in Bahia02 Coração Vagabundo03 Tropicalia04 Marginalia II05 É Luxo Só06 É De Manha07 Sampa08 Terra09 Nine Out of Ten10 Odeio Voce11Tonada de Luna Ilena12 Eu Vim da Bahia13 Super Homem14 Come Prima15 Esoterico16 Tres Palavras17 Drao18 Se Eu Quiser Falar Com Deus19 Expresso 222220 Toda Menina21 Sao Joao Xango22 Avisa Lá23 Andar com Fé24 Filhos de GandhiBisDesde Que o Samba e Samba#CVGG100 Caetano Veloso

Posted by Gilberto Gil on Quinta, 25 de junho de 2015

Polêmicas a parte, vamos ao que interessa. Como é dia de celebrar as 73 primaveras de Gil, republicamos hoje três reportagens da Brasileiros que tem como personagem este gigante da nossa música popular.

A primeira delas foi publicada há exatos seis anos, em julho de 2009, ocasião em que foram completadas quatro décadas do exílio londrino a que ele e Caetano foram submetidos após o decreto do AI-5, durante o governo do general Médici. A partir desse episódio, Gil faz um balanço de sua carreira em extensa entrevista (leia). A segunda matéria foi publicada na coluna Quintessência e conta a história do quarto álbum da carreira de Gil, lançado em Londres, com a participação de músicos locais (leia e ouça). Por fim, relembramos outro episódio marcante do baiano em terreno britânico: sua passagem pelo festival da Ilha de Wight, em 1970, dias antes da morte de Jimi Hendrix. Apresentado a ele pelo percussionista Airto Moreira, músico da banda de Miles Davis que também tocou no festival, Gil teve a felicidade de conhecer este que ainda é considerado o maior guitarrista de todos os tempos (conheça essa história).

Na manhã desta sexta-feira, Caetano Veloso publicou um belo depoimento em que relata uma passagem do show de ontem em Amsterdã e presta homenagem ao amigo. Leia abaixo: 

“Gil faz 73 anos hoje. Ontem, cantando e tocando Tres palabras daquele jeito, ele me fez chorar. Gil engendra em Gil rouxinol. Nada se parece mais com ele do que esse verso escrito no século 19 por Sousândrade. Gil tem a c
ompulsão da música. Na passagem de som, faz todos os números do show que fará à noite. Alguns, mais de uma vez. Não poupa a voz. Parece acreditar nos portos-seguros das comendas, das estabilidades, dos confortos, mas é misterioso. Costumava alardear fé em transcendências e entregas a imanências sagradas. Seu trabalho de filigrana com harmonias a um tempo sutis e toscas, feitas de paixão por cordas soltas, desabusada distribuição de posturas repetidas de mãos sobre os trastes ao longo do braço do violão, no entanto, mostra absorção do impressionismo que veio da bossa nova e uma aleatória sugestão de atonalismos que apontam para o tambor a que ele sempre quis, como no poema do moçambicano, resumir-se. Ao cantar demais, gasta a voz, castiga as cordas vocais, mas torna-se alguém que vai virando pura música. Não sei a que deuses agradecer o acaso de ter estado desde quase sempre tão perto dele”


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