Humor corre solto em Ouro Preto

Da esquerda para a direita, João Gbriel de Lima, da revista Época; Marcelo Zorzanelli, do Sensacionalista, e João Moreira Salles, do Piauí Herald.
Da esquerda para a direita, João Gabriel de Lima, da revista Época; Marcelo Zorzanelli, do Sensacionalista, e João Moreira Salles, do Piauí Herald. Foto: Carol Reis

Mediada por João Gabriel de Lima, da revista Época, a mesa O Humor nos Tempos de Cólera no Fórum das Letras de Ouro Preto, neste sábado, dia 12, foi engraçada, como era de se imaginar, mas também lançou várias questões importantes para reflexão, entre elas os limites e riscos do humor, a isonomia e a função catártica da piada.

Ambos falaram da origem de seus projetos. Zorzanelli, do Sensacionalista, grupo de humoristas que se reúne no Whatsapp para decidir as pautas e tem 3 milhões de seguidores no Facebook, explicitou a influência direta do site norte-americano The Onion, que faz humor crítico justamente com a criação de notícias falsas; Salles, por sua vez, lembrou da inusitada propaganda da Louis Vuitton com o ex-Secretário Geral do Partido Comunista Russo, Gorbachev, como fonte de inspiração para o Piauí Herald, e do Diário de Carla Bruni como exemplo para o Diário da Dilma.

O Planeta Diário também foi mencionado pelos dois. Para Salles, o trabalho da turma do Casseta & Planeta teve o grande mérito de dessacralizar as figuras públicas, “de quebrar as estátuas, tirar o sujeito do cavalo.” Ele completou: “A gente tem de sacanear todos os poderosos, não só os adversários. Tem de bater no Crivella e no Freixo também. Se fizer humor militante, você morre.” Ao que Zorzanelli emendou, com um neologismo: “Todo mundo é piadável”.

Todo mundo é piadável", diz Zorzanelli, no Fórum das Letras. Foto: Carol Reis
“Todo mundo é piadável”, diz Zorzanelli, no Fórum das Letras. Foto: Carol Reis

Lima, ótimo mediador, perguntou quem são os mais piadáveis. “Temer é um sonho, uma dádiva”, brincou o representante do Sensacionalista, que chegou a publicar tuítes da advogada Janaína Paschoal na íntegra (“não dá pra competir com ela”), de tão absurdos que eram (“a Rússia vai invadir o Brasil pela Venezuela” foi um dos mencionados). Dória e até o jogador David Luiz também entraram na roda – este último processou o Sensacionalista por brincar com sua suposta virgindade. “As pessoas nunca são suficientemente ridículas”, comentou Salles.

Outro assunto debatido foi a paranoia de, por um lado não perder a piada, e, por outro, exagerar na dose, atacando “quem já é muito pisado diariamente”, como disse o publisher da Piauí, referindo-se a minorias, como muçulmanos, negros e gays. Mas “o risco de ser piedoso é cair na condescendência”, concluiu.

Inevitavelmente, o Charlie Hebdo entrou na conversa. Para Salles, os humoristas do semanário francês de vez em quando fazem piadas abjetas: “Estão no papel de satiristas radicais, fazem o que não temos coragem de fazer, e pagaram o pior preço por isso, o horror.”

Para Salles, Charlie Hebdo pagou o pior preço por fazer "o que não temos coragem de fazer".
Para Salles, Charlie Hebdo tem o papel de fazer “sátiras radicais”. Foto: Carol Reis

Outro aspecto interessante levantado foi o da verdade jornalística. “Começamos a botar o lide 100% real da matéria, para as pessoas entenderem o contexto da piada”, explicou Zorzanelli. “Agora tem gente que se informa pelo Sensacionalista, o que é muito legal.” Para Salles, no entanto, vivemos um momento delicado, em que Trump é eleito mesmo depois de ter sido provado que o novo presidente americano mente em 70% de suas declarações. “Como uma democracia liberal pode continuar existindo, se as pessoas não acreditam no que se diz?”, concluiu, dizendo-se muito pessimista com o futuro.

O Fórum das Letras, comandado por Guiomar de Grammont, continua sua programação até terça, dia 15, confira no site. Além dos debates, há um excelente ciclo sobre Jornalismo, filmes, espetáculos e shows.


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