Inclusão através da dança

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Foto: Divulgação

Quando começou um trabalho voluntário aos 15 anos de idade, Fernanda Bianchini mal sabia o que viria pela frente. Era 1996 quando ela foi convidada a dar aulas de dança para alunos no Instituto de Cegos Padre Chico. Desde então, assumiu um desafio que se tornou referência para centenas de alunos que redescobriram um novo mundo através da dança.

Ensinar balé para alunos com deficiência visual e que não tinham nenhuma referência da dança exigiu de Fernanda uma nova forma de apresentar o balé. E foi através do toque que alunos conseguiram mimetizar movimentos e sincronizar passos.    

“Na primeira aula, eu vi que eu precisava entender as limitações deles para que eu também pudesse apresentar o meu mundo do balé clássico. Foi através dessa experiência que surgiu uma técnica aplicada através do toque”. Durante os ensaios, os alunos tocam o corpo de Fernanda para sentir o movimento produzido e na sequência tentam reproduzir o mesmo movimento sozinhos. Segundo Fernanda, o método foi patenteado e também tema de dissertação de seu mestrado, em 2005, dois anos após a professora e fisioterapeuta ter deixado o Instituto Padre Chico para montar a Associação de Balé de Cegos Fernanda Bianchini.

Em 2013, a Associação se tornou uma OSCIP, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Além da associação que reúne atualmente 100 alunos, a partir de 3 anos até a terceira idade, Fernanda também é responsável por uma companhia de balé, onde as alunas da escola se apresentam profissionalmente. Depois do reconhecimento nacional, a companhia também ganhou a atenção de prêmios e convites para se apresentar em palcos no exterior, caso do encerramento das Paralimpíadas de Londres, em 2012.

Fora o balé clássico, a escola conta com aulas de sapateado e expressão corporal também destinadas a outros alunos com outros tipos de deficiência, sejam auditivas, motores e intelectual.

Há ainda uma turma destinada a atender crianças e jovens de comunidades carentes da cidade. “Com eles, trabalhamos com a inclusão às avessas. Quando a criança enxerga, mas também aprende através do toque e, muitas vezes, com os olhos vendados. É uma forma de inclusão, pois você se coloca no lugar do outro, respeita, valoriza e admira o potencial de uma pessoa, independente de uma deficiência ou não”, explica Fernanda.

Todas as aulas são gratuitas. Além de Fernanda, a Associação conta com uma equipe de dez professores, entre estes, professores também portadores de deficiência visual. “O deficiente é visto, de modo geral, como aquele que precisa de apoio, de cuidado. Mas no palco, elas são as artistas. E elas são as aplaudidas. E é o público que acaba se sentindo o incapaz, porque eles veem tanta superação no palco, que eles se perguntam por que eu estou reclamando? Então, acredito que através do bale clássico, conseguimos mudar esses valores. E eu tenho certeza de que quando elas estão no palco, elas se esquecem que têm uma deficiência”, reflete Fernanda. 

Hoje, 14, a Cia. De Ballet para Cegos Fernanda Bianchini se apresenta no Auditório do Parque Ibirapuera, em São Paulo, com o espetáculo “Divertissiment”. Composta por balé clássico livre, partes do balé do repertório “Don Quixote”, “A Bela Adormecida” e “O Quebra Nozes”, a apresentação é aberta para o público, que poderá contribuir para uma boa causa, já que parte da venda dos ingressos será revertida para a companhia. 

Serviço
“Divertissement”
14 de fevereiro, às 21h
Auditório do Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral, Portão 3
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia)


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