Estudantes querem conter o avanço das propostas na educação que avançam no governo Temer – a reforma do ensino médio e a PEC 241 – e, para isso, retomaram um recurso que lhes rendeu vitória contra o fechamento das escolas paulistanas: a ocupação. Na madrugada deste sábado (8), cerca de dez estudantes ocuparam a Escola Estadual Caetano de Campos, localizada na Praça Roosevelt, centro da cidade de São Paulo.
A medida provisória para a reforma do ensino médio determinou que as disciplinas de filosofia, sociologia, artes e educação física deixem de ser obrigatórias.
Ela foi assinada por Michel Temer no final de setembro e é válida como lei imediatamente por até 120 dias – depois, é votada no Congresso para ser transformada definitivamente em lei (ou não).
Já o relatório da Proposta da Emenda Constitucional 241 foi apresentado essa semana e será votado na segunda-feira (10). A proposta congela os recursos de saúde e educação por 20 anos.
A reportagem esteve no prédio da escola às 8h, quando cerca de dez jovens estavam dentro da escola. Uns preparavam o café; outros dormiam. Havia, ainda, a confecção de cartazes. Eles chegaram na escola por volta da 1 AM. Não houve ação da polícia, relatam alunos. A maioria, por segurança, não quis se identificar e não permitiu imagens.
A ocupação estava sendo pensada há duas semanas, dizem os alunos.Uma aluna do 2° ensino do Ensino médio informou que as assembléias serão feitas para definir o rumo da ocupação. Eles também dialogam com outras escolas.
Os pais, diz ela, ficam preocupados, mas há o apoio. Já a direção e a coordenação da escola têm uma posição dúbia, segundo ela. “Eles são contra as propostas, mas não gostam muito dos alunos tomando à frente.”
Alunos têm como bandeiras a reforma do ensino e a PEC 214, mas criticam também todo o “sucateamento do ensino” e querem uma nova visão de educação – que ela não seja vista como um privilégio, mas algo que seja para todos.
Hora do café da manhã
Quando a reportagem chegou, doações já haviam chegado e alunos preparavam o café da manhã.
Duas meninas estavam na cozinha, enquanto os garotos esperavam o café. Provoquei os meninos e perguntei se eles não iriam ajudar as garotas. Elas os defenderam dizendo que só estavam organizando.
“Olha, eles enviaram sucos e leite”, disse uma aluna, feliz, quando abriu a caixa de doação. Perguntei o que ela achava da PEC e da reforma. “A ocupação diz tudo”, afirma.
Outra aluna emenda:
“A gente é contra a reforma e contra a PEC 241. Somos contra o desmonte e a precarização do ensino, também no ensino básico e superior. A gente é a favor de uma educação pública de qualidade, com o povo no comando”, disse aluna do 2° ano do ensino médio da escola. “A gente quer derrubar essas propostas”.
“Eu vou deixar de ter aula de filosofia e sociologia no meu ano”, diz ela. “Tudo bem que as aulas são sucateadas, falta professor, ou eles não se preocupam em passar um conteúdo novo, mas a gente não pode deixar isso acontecer. Tem que melhorar o que tem.”
A aluna disse que está aprendendo, no segundo ano, a mesma matéria que teve no primeiro e reclama do conteúdo não ser atualizado. Ela conta também que a ocupação é contra as reformas às cegas, com fechamento de salas de aula – “porque ninguém fica sabendo disso”.
Minha Escola. Minhas regras
De manhã, alunos também estavam confeccionando cartazes para colocar na frente da escola. “Fora Temer”, “Minha Escola, Minhas Regras”, “Ocupamos o que é nosso”, “Vai ter Luta “, “Queremos Pensar”, “Ocupado contra a PEC 241” eram alguns deles.
Um outro jovem que não quis se identificar diz que luta também por uma mudança de mentalidade.
“A gente luta por tudo isso e por uma outra visão. Uma escola do povo. Que a educação não seja um privilégio. É importante. Todo mundo tem que ter, mas olha isso aqui – [aponta para uma parede quebrada] – está tudo abandonado.”
“Você já viu o teatro da escola aqui do lado? Está todo quebrado, poderia ser aberto, inclusive, para a comunidade.”
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