E apita o mediador! O mediador!? Isso mesmo, no Mundial de Futebol de Rua, que começou no início de julho e termina nesse sábado, dia 12, o juiz não existe. As regras são impostas pelos próprios “atletas”, se o lateral pode ser cobrado com as mãos ou apenas com os pés, se existe o recuo de bola, até onde pode jogar o goleiro… 

Na competição, o placar também não é decidido apenas por bola nas redes, após o apito final, existe um “terceiro tempo”, no qual as duas equipes se reúnem e analisam se as metas impostas, o fair play, foi respeitado. Um gol coletivo pode contar até dois nesse “tapetão do bem”. No final das contas, o placar pouco importa, a vitória é de todos, dos mais de 300 jovens carentes de 20 países diferentes que vieram ao Brasil participar da festa.

O campeonato é realizado pela instituição argentina Fundação Futebol e Desenvolvimento (FuDe), pelo Movimiento de Fútbol Callejero e pela ONG Ação Educativa e em 2014 chegou a sua terceira edição, sempre sendo realizado nos países sede da Copa do Mundo, simultâneos ao principal evento de futebol do planeta. “Esse é o primeiro que a gente organizou de forma totalmente independente, sem a ajuda da Fifa. Foi uma luta para trazer esses meninos para cá, alguns conseguiram através de organizações, dando ‘jeitinho’. Teve um time que vendeu marmita com uma placa dizendo ‘vamos participar do Mundial de Rua’. A Bolívia passou três dias dentro do ônibus… Muito se deve ao esforço deles, alguns parceiros ajudaram no financiamento também. Pagamos parte para alguns deles, para a delegação de Serra Leoa, por exemplo, pagamos 100%, já que eles não tinham nenhuma condição financeira de arcar com a viagem”, explicou Carolina Farias Moraes, que integra a Secretárias Executiva do Mundial de Futebol de Rua. 

Os “jogadores” chegaram ao Brasil no dia 30 e ficaram uma semana integrados aos CEUs (Centro Educacional Unificado), antes de começar o torneio.

Enquanto a bola rola, o narrador, de dentro da quadra do SESC Pinheiros (o campo montado no Largo da Batata a céu aberto foi substituído, por causa da chuva), berra incansavelmente, estimula os jogadores, comemora os lances de efeito e exalta cada um dos meninos e meninas, que jogam misturados nas equipes. “O campeonato é muito importante para a união dessa molecada, e nós fazemos questão de dar voz a eles, o jogo é deles, eles decidem, eles estabelecem as regras. E  se pediu falta parou. A confraternização é o principal objetivo, temos aqui países como Serra Leoa, Filipinas, com histórias recentes muito complicadas, é fantástico eles estarem aqui, essa é a verdadeira Copa com sentimento”, contou Alex Barcelos, o narrador, ou melhor “mestre de cerimônias”, que faz parte do projeto Narra Várzea, que faz esse trabalho há algum tempo no futebol amador, ligando o esporte com a cultura, com a poesia e com a literatura.

Na tarde de sexta-feira, dia 11, aconteciam as partidas das quartas-de-final, prestigiadas com festa mesmo pelas equipes já eliminadas. Na primeira delas, clássico sul-americano entre Colômbia e Chile. Vitória de virada dos colombianos e show do camisa 10 Anua Rumbo, de 20 anos. “Para a gente tem sido muito bom, é um campeonato de futebol com valor!”, comemorou o craque que, talvez, se tivesse recebido o devido incentivo, poderia estar no Brasil ao lado de James Rodriguez em vez de habitar as ruas da Colômbia.

A grande final está marcada. É nesse sábado, dia 12,  na Avenida Ipiranga, altura da Praça da República, centro da cidade. A semifinal está marcada para às 14h e a final é logo na sequência. Porém, nessa festa, a bola rolando é o de menos.

                    


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