Fim de Copa para nós. Não deu. O tempo passa, como dizia o velho Fiori Gigliotti. Tudo no mundo mudou, mas a história acabou se repetindo. Outra vez, encontramos uma Holanda no meio do caminho, e fomos por ela despachados, sem dó nem piedade, 36 anos depois.
3 de julho de 1974: repórter de esportes do Estadão na época, eu estava no belo Westfalenstadion, em Dortmund, e vi de perto o jogo pelas semi-finais da Copa da Alemanha, no dia em que o alegre carrossel da Holanda de Cruyff e Neeskens botou na roda o Brasil retrancado e triste de Zagalo.
2 de julho de 2010: assisto ao primeiro tempo de Brasil e Holanda na lanchonete Route 858, em Porangaba, pequena cidade do interior paulista. Desta vez, começamos melhor do que eles, e logo me esqueci daquele dia da derrota de Dortmund, que me veio à lembrança quando estava indo para a cidade. Tivemos um gol anulado logo no começo, Robinho fez um belíssimo gol aos 10 minutos, e parecia que tudo seria diferente.
Só eu não conseguia me animar para participar da festa que começou no intervalo, com a juventude dourada da cidade dançando e cantando na rua em volta do “paredão de som” instalado no porta-malas de um carro, que tocava música de discoteca no último volume, bem no lugar onde os antigos fregueses amarravam os cavalos, no tempo em que o bar ainda se chamava “Primeiro Gole” e não tinha hamburguer.
Tive um estranho pressentimento, sei lá, e achei melhor voltar para o sítio e assistir ao segundo tempo sozinho com meus cachorros. O resto vocês já sabem. Depois de tomar o gol de empate, numa lambança da defesa, o Brasil se perdeu em campo, tomou logo o segundo, teve jogador expulso, entregou os pontos.
Nem de longe este time da Holanda fez lembrar a “Laranja Mecânica” que encantou o mundo em 1974, mas o Brasil de Dunga parecia o mesmo de Zagalo, sem talento e força para reagir.
Assim que o jogo acabou, minha filha Mariana me ligou e ouvi um choro sentido no celular. Era minha neta Laura, de sete anos, que passou as últimas semanas colecionando figurinhas da Copa, na maior alegria, sempre vestida com a camisa da seleção, agora inconformada com o Brasil fora da disputa. “Eu nunca vi o Brasil ser campeão!”, queixava-se, e chorava.
Para piorar, a sua cachorrinha, a Pipoca, estava na maior alegria, pulando e latindo, querendo brincar com ela. Travou-se então este diálogo:
– Mãe, por que a Pipoca não está chorando?
– Porque ela é apenas uma cachorra
– Então, eu preferia ser uma cachorra também
Calma, Laurinha, 2014 vem aí. Este nosso time de 2010, como o de 1974, não vale a tua tristeza.
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