Estranhos na África

Na terça-feira (8), falamos sobre as equipes que entram na Copa do Mundo de 2010 e podem realmente se considerar seleções nacionais. Alemanha, Itália e Inglaterra têm 100% de seus elencos de 23 jogadores de clubes das ligas de seus respectivos países, algo extremamente positivo, principalmente para os torcedores, que acompanham seus craques semanalmente e de perto. [nggallery id=14272] Nesta quarta, mostraremos o outro lado da moeda. Se as únicas seleções 100% caseiras estão na Europa, não é difícil de imaginar o continente onde existem mais seleções formadas por jogadores que atuam além das fronteiras nacionais: a África.O continente mais pobre do planeta participou pela primeira vez de uma Copa do Mundo com o Marrocos, em 1970. Mas foram só 20 anos mais tarde que os africanos mostraram sua força. Na Copa da Itália, em 1990, Roger Milla e a seleção camaronesa alcançaram as quartas de final. Foram parados pela Inglaterra, mas venderam caro a derrota na prorrogação, por 3 a 2. Desde então, os jogadores do continente começaram a despertar a cobiça dos grandes centros do futebol e as ligas nacionais africanas, que já eram fracas, se tornaram praticamente inexistentes.Um exemplo claro disso é a própria seleção camaronesa de 1990. Onze jogadores daquele plantel, ou seja, metade dos convocados (na época, cada seleção levava 22 jogadores para o torneio), atuava em clubes nacionais. Na outra metade, dos “estrangeiros”, 10 dos 11 jogadores integravam clubes franceses, país colonizador de Camarões e único mercado possível na Europa para jogadores da nação africana até então.Apenas Thomas Nkono, considerado um dos melhores goleiros de todos os tempos no continente africano, jogava no badalado Campeonato Espanhol (era do Espanyol). Em 2010, Vincent Aboubakar, de apenas 18 anos, foi o único jogador convocado entre os 23 que disputa a liga do país. Ele atua no Coton Sport. Ou pelo menos atuava quando foi convocado. Há poucos dias, o Valenciennes, da França, anunciou a contratação do jovem jogador, que logo após a Copa já voa com destino ao velho continente e se apresenta para a nova equipe.Costa do Marfim é outra equipe que se aproveitou da crescente exportação de matéria-prima e praticamente abandonou seu futebol nacional. O país é o que conta com mais jogadores em destaque nos grandes clubes do futebol europeu. Em 2006, na primeira participação do país em Copas do Mundo, todos os convocados faziam parte de equipes do velho continente. Nessa Copa, a história não será muito diferente. Apenas Daniel Yeboah, terceira opção no gol marfinense, faz parte de um time local, o ASEC Abidjan.Mas o recorde ainda é mantido pela Nigéria. Em sua quarta Copa do Mundo, o país levará 23 jogadores “europeus” para a África do Sul, fato que só não aconteceu na Copa de 2002, quando havia três nigerianos no elenco que ainda faziam parte do campeonato nacional. E isso não é apenas uma curiosidade ou simples coincidência. O reflexo da má administração do futebol nigeriano é claro. Desde quando começou a participar da grande festa do futebol, em 1994, até hoje, 16 anos depois, a Nigéria já teve 17 técnicos diferentes. Alguma coisa está errada.Enquanto isso, o país mais bem estruturado do continente, justamente os que foram capazes de levar uma Copa do Mundo para a África, têm o prazer de ceder 16 jogadores do campeonato local para a Copa do Mundo. Isso mesmo, na África do Sul, foram convocados 16 jogadores de oito equipes diferentes do país. No banco, no entanto, o estrangeiro Carlos Alberto Parreira.Já o Brasil, emplacou apenas o reserva Gilberto entre os convocados que desfilam suas habilidades em campos brasileiros. Robinho, atualmente no Santos, é outro, mas não deve durar muito por aqui. Depois de passagens apagadas em Real Madrid e Manchester City, o atacante apostou numa volta ao futebol brasileiro para recuperar o bom futebol e, de fato, jogar, já que era reserva na Espanha e Inglaterra. No entanto, já há rumores de interesse de Barcelona e outros clubes no futebol do santista.Assim como o africano, o futebol brasileiro ainda não é capaz de manter seus grandes craques dentro dos clubes nacionais. Nossa seleção permanece “estrangeira” e um tanto estranha à maioria da população. Coisas do mundo globalizado.

MAIS:
– Veja o nosso infográfico sobre os estádios da Copa
– Conheça as cidades sede com nosso infográfico
– Página especial da Copa do Mundo de 2010 no iG
Site oficial da Copa do Mundo de 2010


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