Fechadas as contas, o italiano Roberto Saviano é, possivelmente, o nome mais forte (leia-se mais conhecido) da programação principal da 13ª Flip. Autor de reportagens como Zero Zero Zero, sobre o tráfico de cocaína e Gomorra, sobre a máfia italiana, Saviano vive mudando de endereço por conta de ameaças de morte, o que provocou especulações de como seria seu esquema de segurança durante o evento em Paraty.
Outro nome alinhado ao tema guerrilhas contemporâneas é o do escritor, cartunista e diretor francês de origem árabe, Riad Sattouf, ex-colaborador do semanário Charlie Hebdo, que estará lançando suas memórias de menino no Oriente Médio.
Em termos puramente literários, a Flip terá pelo menos quatro grandes destaques. Dois deles, curiosamente, ainda não haviam sido lançados no Brasil. O inglês David Hare é, ao lado de Tom Stoppard, o maior dramaturgo em atividade no Reino Unido. Como disse o curador Paulo Werneck, suas peças “fazem do teatro um ponto de observação da política britânica.” Pode-se dizer mais ou menos o mesmo dos romances do queniano Ngugi wa Thiong’o, volta e meia cotado para o Nobel. Foi por conta de uma peça sua, aliás, que ele foi preso pelo governo de seu país, em 1977, levando-o a abdicar do inglês como língua de seus textos. Por ocasião da Flip ele vai lançar o romance Um Grão de Trigo e o livro de memórias Sonhos em Tempo de Guerra.
Richard Flanagan, por sua vez, é o segundo vencedor seguido do prestigioso Booker Prize a vir para a Flip logo após o prêmio (Eleanor Catton veio no ano passado). Seu livro O Caminho Estreito para os Confins do Norte será lançado em breve. E há o retorno à Flip, depois de 11 anos, do irlandês Cólm Tóibín, estilista consagrado na arte do romance, um discípulo “indireto” de Henry James, a quem biografou, com liberdades de romancista, em O Mestre.
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Já Mário de Andrade, maior intelectual brasileiro, segundo Milton Hatoum, será reinterpretado, “sem pretensão, mas com ambição”, como disse Werneck, por diversos pontos de vista que não o tradicional, associado à semana de 22. Mudando o roteiro, a Flip abre suas sessões na tenda principal com três estudiosos de peso, cada qual ressaltando um aspecto peculiar em sua obra. Assim, a argentina Beratriz Sarlo vai falar das intersecções com a vanguarda latinoamericana, Eduardo Jardim, que lança uma biografia pioneira, sobre sua relação com o Rio de Janeiro e Eliane Robert Moraes sobre o sexo e o erotismo em seus poemas e romances como Macunaíma.
O importante aspecto de sua pesquisa musical será debatido em outra mesa, reunindo o incansável e rigoroso José Ramos Tinhorão e o poeta Hermínio Bello de Carvalho. Fechando os trabalhos (numa experiência de formato), a tradicional aula de abertura ficou para José Miguel Wisnik, que deverá juntar as partes e fazer um retrato do todo complexo que foi Mário de Andrade.
Outra experiência da curadoria, a faixa das 21:30 vai reunir nomes ligados ao erotismo, humor e “sex, drugs & rock’n roll”. É aí que vai se dar o curioso cruzamento da erudição de Eliane Robert Moraes, que estará lançando uma fina antologia de poesia erótica brasileira, e a comicidade lúbrica de Reinaldo Moraes com a cultura pop dos cantores, compositores e poetas Arnaldo Antunes e Karina Buhr.
Ou seja: ainda que repita alguns nomes, a Flip não nega fogo.
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