Recordar: Do latim re-cordis, tornar a passar pelo coração
Eduardo Galeano, Abraços, 1991
O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu no início da manhã desta segunda-feira (13) em Montevidéu, segundo publicou o jornal espanhol El País. De acordo com a publicação, ele estava lutando contra um câncer na região da cavidade torácica, mas o tumor entrou em metástase. Ele tinha 74 anos e deixa esposa e três filhos.
A reportagem de Brasileiros entrou em contato com Galeano há um mês, na capital uruguaia, para pedir entrevista, mas o escritor recusou alegando “estar muito doente”. Segundo colegas jornalistas do Semanário Brecha, publicação que colaborava com menos vigor nos últimos meses, ele não aparecia nas reuniões de pauta desde o ano passado, mesma resposta dada pelos garçons e pelo gerente do Café Brasilero, na Plaza Independência, que Galeano costumava frequentar e até conceder entrevistas.
Em 2011, o jornalista Washington Luiz de Araújo, de Brasileiros, entrevistou Galeano em Montevidéu, ocasião em que ele se preparava para lançar O Filho dos Dias. “É curioso como este nosso planeta está trabalhando com tanto entusiasmo para sua própria aniquilação. São negados alguns dos direitos humanos dos mais elementares de todos. Por exemplo, o direito de respirar. Quando era menino, a mestra me dizia: ‘Respirar Eduardito, é o que é importante’. E respirar está cada vez mais difícil, pois o ar está envenenado, principalmente nas grandes cidades”, disse à época.
“Eu lamento muito. Galeano foi um cronista da nossa história. Um jornalista sem medo da verdade, um homem combativo, o que é uma coisa muito rara. Seu livro As Veias Abertas da América Latina fez a cabeça da minha geração toda. É uma obra que deveria ser trabalhada nos cursos de jornalismo. Mesmo no ensino fundamental como introdução à história da América Latina. Ele aborda de forma brilhante o movimento da economia regional, por exemplo, o ciclo da borracha na Amazônia, em Manaus”, afirmou o escritor Milton Hatoum à Brasileiros.
Eduardo Galeano é autor de mais de 30 livros, entre os quais alguns famosos como Memórias de Fogo (1982) e Futebol ao Sol e a Sombra (1995), mas foi com Veias Abertas da América Latina (1971) que sua obra teve alcance mundial, traduzido para mais de dez idiomas e com mais de um milhão de exemplares vendidos pelo mundo. Nele, o escritor relata – de forma apaixonada – a história da América Latina desde a colonização europeia até a ascenção do imperialismo no século XX. Paralelamente, Galeano exibe crônicas de personagens que conheceu durante a realização do livro e que possuem ligações com os acontecimentos históricos do continente. No ano passado, durante um encontro em Brasília, ele disse que “a realidade mudou” e que “não leria o livro porque era um texto sem o conhecimento devido sobre economia e política”.
O último encontro público de Galeano foi com o presidente da Bolívia, Evo Morales, no início de março, quando o boliviano foi a Montevidéu para se reunir com o colega “Pepe” Mujica. Segundo o diário uruguaio El País, “isso significou um grande esforço para ele porque estava há algum tempo com problemas de saúde”.
Eric Nepomuceno entrevista Eduardo Galeano em 2009 para a série Sangue Latino, do Canal Brasil:
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