“Não escrevo para manter o mundo igual, escrevo porque quero mudar alguma coisa”, diz Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe - Foto: Vinicius Felix
Valter Hugo Mãe – Foto: Vinicius Felix


O angolano criado em Portugual Valter Hugo Mãe vem frequentemente ao Brasil há pelo menos quinze anos. Dessa vez, não veio para divulgar um novo livro, mas sim para fazer uma palestra em Porto Alegre no início da semana dentro do evento Fronteiras do Pensamento

De passagem por São Paulo até domingo (9), o autor de romances como A desumanização (2014) e a máquina de fazer espanhóis (2010) encarou uma longa quinta-feira (6) de entrevistas para diversos veículos. A última parada do dia foi na Brasileiros para uma entrevista que ficou mais com cara de uma conversa.

Entre diversos tópicos, Hugo Mãe falou da literatura que tem força de salvar uma vida, a porcaria da banalidade, o que pensa da União Europeia e as dificuldade em lidar com a sede da imprensa, seja na hora de antecipar um livro que nunca será escrito ou perguntar sobre assuntos dos quais ele não sabe absolutamente nada.  

Valter Hugo Mãe: “Não escrevo para manter o mundo igual”

Na última última quinta-feira, Valter Hugo Mãe – Pag Oficial passou pela redação da Brasileiros e conversou um pouco com a gente. Assista um trecho em vídeo, a conversa toda está no site: http://old.brasileiros.com.br/k9YkU – Cosac Naify

Posted by Revista Brasileiros on Saturday, August 8, 2015

Brasileiros – Quando você lançou A Desumanização, disse em entrevista para a Brasileiros que estava desencantado com o ser humano e consigo mesmo. Como está esse desencanto, passados um ano e meio?
Valter Hugo Mãe – Eu dizia isso nesse sentindo, em que há uma espécie de tomada de consciência necessariamente, ou seja, a gente chega em um ponto da nossa vida em que a gente vira responsável por tudo, não tem mais desculpa.
Não pode ficar mudando as coisas porque alguém fez uma burrada no meio do caminho. Não, a gente chega em um ponto em que nossa vida é o que é sobretudo porque nós somos o que somos. Por isso, nesse aspecto, uma das coisas que eu entendi assim que cheguei aos 40 anos é que muito dos meus objetivos foram meio deslumbrados de início, eu fiquei sonhando com coisas que talvez não fossem prioritárias.
Aos 40 anos, pelo menos comigo aconteceu assim, entendi que há coisas mais simples e mais comuns na vida que eventualmente fazem mais parte, que são sonhos muito mais vibrantes e razoáveis, então eu misturei muita coisa, são muitas sensações.
A desumanização vem de muita coisa, inclusive de mim, quando eu dizia isso, que estava um pouco frustrado comigo mesmo, quase como me acusando de alguma coisa. Porque eu tenho noção de que a gente vai envelhecendo e endurecendo, né? E a gente endurece em prejuízo da manutenção de uma capacidade de acreditar, da manutenção da capacidade de ser sensível, de ser generoso. E no fundo eu sempre quis muito isso, sempre quis muito reservar uma espécie de conduta com alguma dignidade. E chega um ponto em que percebe que a vida nos deixa um pouco indiferentes. Por isso, quer a gente faça um esforço ou não, há uma desumanização de base.

Relacionado a isso, em uma entrevista recente você comentou que “a banalidade é o predador mais comum de todos nós”. Como escapar disso?
A banalidade é uma porcaria. A banalidade é uma coisa que a gente subitamente comete porque a vida solicita isso, a vida solicita rotinas e solicita um conhecimento mais rápido possível, então a gente têm tendência para se mover no registro que a gente já domina, já conhece. E aí qualquer coisa se transforma num mesmismo, né? As coisas ficam as mesmas coisas.
Mas a aventura da vida pressupõe uma alteração, uma adulteração, uma superação. A ansiedade eventualmente da arte é isso. A arte quer ser uma coisa especial no seu dia, não quer ser uma coisa normal no seu dia. Normalidade é outra coisa que não é arte.  Então, a arte é exatamente o que vem conferir uma especialidade ao seu dia, aquilo que vai fazer, quando você começa a ler um livro, você ser transportado para um universo, que pode ser um mode de pensar sobre a realidade, mas o modo como você chega lá é um modo especial. E você sente uma qualquer plenitude, você sente algo que transcendeu o seu cotidiano.

Na sua literatura isso sempre foi uma preocupação ou foi algo que surgiu depois com a experiência?
Sempre foi. Eu sempre quis tudo da poesia, sempre quis tudo da literatura. Sempre quis que a literatura e a poesia pudessem trazer uma espécie de redenção para todas as coisas. Como se justificasse todas as coisas. E eu sempre fiz as coisas exatamente a partir desse ponto necessariamente poético, em que as coisas são ditas, em que todas as expressões podem falar da coisa mais simples, mas elas têm uma aspiração a uma beleza superior, a uma coisa superior.
Não escrevo para manter o mundo igual, eu escrevo porque eu quero mudar alguma coisa, eu quero influir, tem uma aspiração de beleza, tem uma aspiração de sonho. Eu não compreendo o artista que quer traduzir a realidade, mas deixar a realidade exatamente como ela é e a única coisa que ele faz no fundo é uma espécie de reportagem jornalística. O jornalismo é uma coisa absolutamente essencial, mas é o jornalismo. A arte sonha com outra coisa, a arte aspira a influir, a mudar. O jornalista não tem autorização para mudar. O jornalista vai ostentar, vai mostrar. Claro que muitas vezes mostrar é o bastante para alguma coisa diferir, não é? Mas o papel do jornalismo começa e acaba nisso, ele mostra. Ele não deve nem dar uma opinião.
O artista não, o artista opina, o artista protesta, interfere, muda, mente se for preciso quando for expor a história. Não é coisa pouca, não é simples, mas é a única forma.

Na mesma entrevista com a gente, você disse que tinha começado a escrever um romance cujo protagonista era um guerreiro primitivo. O livro avançou?  
Não. O trágico de dizer coisas aos jornalistas sobre o que vamos escrever a seguir é que não acontece. A gente fica falando disso e depois perde o entusiamo ou alguma coisa acontece e daí passa. Então passou e eu não vou escrever mais isso, entrou outra coisa que eu não tô falando. Vou começar a dizer que eu tenho superstição.

O Daniel Galera disse algo parecido recentemente, que só começa a falar sobre o novo livro quando a ideia está muito firme por uma sensação um pouco supersticiosa de que se compartilhar demais o trabalho pode depois não conseguir escrever o que desejava.
O Daniel Galera, por exemplo, é um autor que eu admiro e que eu respeito muito, mas a questão não essa. A questão é que eu cometi um erro. Dois anos antes de publicar o Desumanização eu já estava falando sobre a Islândia, já estava dizendo “estou escrevendo um livro que vai acontecer na Islândia”. Então eu fiquei dois anos antes e dois anos depois, falando da Islândia, tudo do país, quantas vezes fui lá. Eu fiquei quatro anos naquela coisa…

Antecipou o próprio livro…
Antecipei demasiado o livro. Eu estava publicando um livro sobre outra coisa e as pessoas já estavam perguntando do próximo. Não antecipar é mais uma gestão de uma coisa que pode virar um cansaço. Por exemplo, é a primeira vez que eu te vejo, primeira vez que você conversa comigo. Para você, todas as perguntas são uma primeira vez, para mim elas podem ser repetidas. Se você me perguntar “por que a Islândia?”, eu posso até bater em você, sabe? (Risos). Posso chegar em um ponto que eu vou só pirar e não vou conseguir nem me conter. Claro que eu respondo outra vez a qualquer questão, mas a intensidade às vezes da imprensa faz com que a gente comece a proteger algumas coisas para que elas não sejam demasiadas.

Você já chegou no ponto de dar respostas diferentes para as mesmas perguntas?
Eu já cheguei no ponto de dar respostas um pouco diferentes, sim. Eu sempre tentei dar respostas diferentes, mas chegando a mesma conclusão, digamos assim. Eu creio que nunca fui antipático, nunca respondi torto. Eu fico sempre honrado e grato pelas pessoas terem interesse de conversar comigo e divulgar o meu trabalho.
Há um esforço para que a resposta vá evoluindo. Porque de tanto responder a gente vai aprendendo coisas, vai intuindo outras e vai lembrando e dizendo coisas novas. Até acontece, e creio que isso é muito rico, do leitor explicar coisas que a gente fica: “Caramba, você estava lá? Você viu quando eu escrevi isso? Como você percebeu isso?”. De repente, o leitor pressente um estado da alma que nós próprios tínhamos esquecido.

Mudando um pouco de rumo, o que falta para que a literatura portuguesa seja mais publicada no Brasil? Tem alguma lacuna que precisa ser resolvida mais rapidamente?
Não vou saber responder. Eu costumava vir ao Brasil e achava que entendia coisas e inclusive regressava a Portugal e vez em quando dava entrevista sobre o que fazer e etc. E hoje eu venho e eu tenho a sensação que eu não entendo nada do Brasil. Eu vejo, adoro, gosto da música, do cinema, da literatura, mas eu não sei como o Brasil acontece. A sensação que eu tenho é que o Brasil está muito em ebulição, as coisas mudam, encontro as pessoas numa estrutura e na vez seguinte elas estão em uma estrutura diferente. Todas as pessoas a quem eu me apego, seis meses depois elas estão em outro lugar, elas mudam de telefone, e-mail, de empresa. E de alguma forma fico com a sensação de que elas melhoram. A sensação que tenho é muito essa que o Brasil está por definir, é uma coisa muito por definir. Não sei exatamente como estabelecer relações contínuas, a única coisa que possa saber é quase só de mim.

É difícil para você quando as pessoas te perguntam, por exemplo, sobre a situação política do Brasil? Já te perguntaram isso muitas vezes?
(Risos) Você pode falar da situação política do Brasil? Você entende alguma coisa? Você tá seguro quando vota? Imagina eu que nem voto aqui, venho aqui duas vezes por ano. Me perguntam muito, muito. As pessoas ficam achando que eu vou dar para elas a resposta que vai solucionar alguma coisa. Não, eu queria que vocês todos fossem muito felizes porque adoro o Brasil, quero vir aqui e quero ver o Brasil feliz, comendo, vivendo, morando e tudo. Agora, cada vez que eu venho, o tópico é crise. O mundo inteiro está achando que o Brasil está em um desenvolvimento exponencial, a gente na Europa acha que os brasileiros agora são todos ricos. A gente vê turistas brasileiros e era uma coisa que eventualmente nos anos 80, 90, a gente não via e hoje vemos. Vou a Londres e vejo mais brasileiros do que vejo chineses. Há alguma coisa acontecendo no Brasil, alguma tem que ter mudado. Eu não sei exatamente quem fez bem, não sei exatamente quem fez mal, mas que é notório e que aos olhos do mundo tem mais brasileiros vivendo bem, isso é inequívoco. Agora, não sei, explica você para mim?

Ok, você pode não fala sobre coisas distantes, mas e a situação da União Europeia e da Grécia, por exemplo, você tem uma análise sobre isso?
Tenho muitas opiniões. Se você quiser que eu diga o que eu acho da  União Europeia neste momento, acho que é uma merda. Pode dizer merda? Porque é uma merda. Não tem outra palavra para definir se é uma merda. E a União Europeia neste momento é uma merda. É um projeto de uma hipocrisia tremenda, que foi criado convencendo as pessoas da Europa que era uma construção unitária verdadeiramente, de igualdade, para levar de fato os diversos países a uma igualdade de dignidade e oportunidade, e nós estamos percebendo que aquilo é um neocolonialismo que domina os povos do ponto de vista econômico e que está criando outra vez uma polarização da Alemanha contra a Europa toda, alemães já vendo os europeus inteiros como povos preguiçosos e culpados. As pessoas já não têm muita dúvida de que o resgate que está sendo feito na Grécia, como o resgate que está sendo feito em Portugal, como o que acontece com a Irlanda, como acontece com a Espanha, com a Itália, é uma instrumentalização desses povos para favorecer os bancos alemães. A Alemanha está num contraciclo de tudo que a Europa supostamente define como bom para Portugal, por exemplo. Tudo que regride em Portugal a Alemanha está produzindo no sentindo contrário. E os políticos alemães estão convencendo o eleitorado alemão que é necessário avançar no sentindo oposto. Como uma coisa é boa para os alemães e é má para nós? E por outro lado, como os alemães continuam a enriquecer e os portugueses chegam ao ponto em que voltam a emigrar, voltam a perder todo tipo de direito e tudo que foi construído desde a democratização? O que está acontecendo precisa ser revisto.

Também na entrevista anterior, você falou um pouco sobre feminismo e me chamaram a atenção duas frases: “O mundo não pode ter apenas a medida dos homens” e “Deus pode ser uma mulher”. No Brasil, o feminismo vive um momento especial, de fortalecimento, especialmente no espaço da internet, com sites e grupos dedicados ao tema. Você acompanha esse cenário brasileiro, tem algo parecido em Portugal?
Sou feminista no sentido em que acho que a mulher precisa de ser respeitada. Não seria feminista se achasse que as mulheres estão num igualdade de oportunidades com os homens, não faria sentindo. Mas não vejo isso, não acho isso, não é concreto. As mulheres recebem uma porcentagem abaixo dos homens, não ganham o mesmo que ganha um homem, por isso não são tratadas da mesma maneira. E mais, tem uma coisa que no futuro será muito categórica, hoje em dia, a mulher estuda muito mais, o homem está exercendo uma espécie de trabalho físico, de força e a mulher cursa muito mais, estuda mais. Um dia, mais tarde, o homem vai ser um individuo que regride.
(O feminismo) É um pouco da minha natureza, eu cresci com a minha mãe e com duas irmãs mais velhas e eu fui muito cuidado e acarinhado por elas e por isso eu acho que o mundo tem que parar de ser uma coisa falocrática, né? Uma tirania do falo.

Você tem conta no Facebook, no Instagram. Você gosta das redes sociais?
Eu vejo, xereto as coisas, vou tentando acompanhar. Inclusive para tentar ver um pouco o que acontece com os meus amigos, é uma forma de acompanhar de qualquer parte do mundo que eu esteja, ter essa sensação de que vou sabendo quem casa, quem descasa, quem tá grávido, qualquer coisa.

Desse acompanhamento já nasceu alguma ideia ou história?
Não, na verdade aquilo que vejo normalmente é muito pouco inspirador. É exatamente o momento do meu dia em que alguma coisa morre assim (risos). Eu fico acompanhando e é uma coisa que desvitaliza ou desmotiva. A gente acompanha as redes sociais e são mais as coisas tristes ou até burras que a gente vê, ficamos muito revoltados. A gente de fato que coloca conteúdos admiráveis, nisso eu tenho interesse. Agora aquela coisa de ficar xingando, ficar protestando.
Alguém recentemente me dizia que quando na América aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o povo ficou colocando em tudo bandeirinha no Facebook alguém disse que não tem que colocar bandeirinha porque a gente tem que se preocupar antes com a fome na África e outro disse que antes a gente teria que se preocupar com a fome do Brasil e antes disso tem a corrupção…
Não pode ser assim, deixa o povo celebrar o que é de celebrar. Cada avanço em cada área tem que ser celebrado.
Um amigo brasileiro dizia que qualquer dia a gente não vai poder dizer bom dia porque vai ter gente que vai dizer “putz, bom dia? Isso é contra os trabalhadores da noite”. A gente precisava mesmo de entender que o fato de ter um veículo de expressão nas redes sociais não retira a importância das pessoas se manterem positivas, honestas, decentes e construtivas. O Facebook não é uma ficção, é a vida real, é o retrato do que fazemos nas nossas vidas. Se alguém constrói alguma coisa que é só má, que é só horrível, a gente vai achar que a pessoa é só horrível, que a vida dela é só uma porcaria. 

Você tem um relação forte com outras linguagens, como as artes plásticas, a música, a poesia e a TV. No primeiro caso, um bom exemplo é a parceria com Nino Cais em O Paraíso São os Outros, seu livro mais recentes no Brasil. Além disso, você tem vários livros de poesia, canta na banda Governo e apresenta um programa de entrevistas na TV. De onde vem essa inquietação? E pra onde vai?
Você não faria isso tudo se deixassem? (risos) Se alguém te metesse na cabeça assim, você quer fazer um programa de TV? Você quer cantar na minha banda? Você vai dizer “ah, não, eu sou jornalista, não posso ser mais nada”? 
Claro, se você me perguntar como é que eu me defino, eu sou um escritor, não sou mais nada. Mas eu fiz um programa de televisão, faço umas entrevistas, fiz uns desenhos e até uma exposição, gravei um disco, eventualmente vou gravar outros. São coisas que a gente faz, não são coisas exatamente que nós somos. É um dimensão dentro do que é possível, dentro do que sou capaz. Não está em causa eu achar que vou ser um magnifico cantor porque eu não acho isso. Fiz de uma forma honesta, tá feito. Só vai ouvir quem quiser. E acho muito bom que todo mundo cante, nem que seja mal.

Algumas perguntas para terminar. A literatura pode salvar o mundo?
Claro que pode. As pessoas têm um pouco a tendência para achar que não, mas as pessoas estão muito erradas. Eu sei porque sou escritor e conheço a literatura de perto (risos). Você tem que pensar assim: salvar o mundo é o quê? É salvar todas as pessoas? Ninguém vai salvar todas as pessoas, nem Cristo, que era um individuo todo preparado, filho de Deus, não conseguiu. O mundo está aí em guerra constantemente, inclusive em guerra muitas vezes por causa dele.
Se você pensar assim, o que é salvar o mundo? Salvar o mundo conta se for uma pessoa, se você influir para melhorar a vida de uma pessoa? Tantos livros melhoraram a minha vida e justificaram minha vida em alturas que eu achava que estava tão perdido e desalentado que não tinha nem vontade de prospectar o futuro. Se o livro fez isso por mim, porque não vai fazer para outra pessoa?

Ao mesmo tempo, a literatura precisa de salvação?
Precisa sempre. Tem muita confusão. As pessoas confundem um livro que é só escrito com um livro que é literatura. É muito fácil, você tem dois objetos que têm folhas e palavras lá dentro, você pode julgar que os dois são literatura. Um pode ser literatura e outro pode ser só um relato, uma porcaria qualquer, um produto para buscar o seu dinheiro. Então, às vezes, a gente precisa ter essa dureza. Não tô dizendo que não é legítimo as pessoas escreverem livros, quero dizer que é preciso um mecanismo de distinção. Ok, tem uma atriz que todo mundo ama, ela encontra um escritor fantástico que escreve a biografia dela, é legítimo. Eu provavelmente li muitos desses livros, mas eventualmente, uma boa parte do que se publica é só um relato. É importante que nas livrarias houvesse uma forma de distinguir. Você não pode por um Drummond ao pé de uma coisa qualquer e depois fazer um top de vendas e dizer: “ah, não sei quem vendeu mais que o Drummond”. Pera aí, quem comprou um livro para ler literatura não comprou porque aquilo é uma coisa do momento, uma moda que dois dias depois vai acabar.

Queria que comentasse um frase que disse recentemente, “quero esclarecer dúvidas que suscitem mais dúvidas”. Por que gerar mais dúvidas?
É porque a gente só lida com dúvidas. Quem consegue lidar com uma certeza absoluta? A gente vai de dúvida em dúvida, até um dia duvidar melhor. Não tem como, é um pouco o início da nossa conversa, de repente, chegada uma determinada idade eu mudei muita coisa na minha vida e há umas crises de crescimento, a gente chega adulto, mas ser adulto não é uma coisa para sempre: “Pronto, você chegou aos 20 anos e você para sempre vai ter esse tipo de consciência, você definiu sua conduta”. A questão é um pouco essa, você vai passar por vários momentos de crise de identidade e vai perceber que aquilo que teve importância não tem importância nenhuma. Penso assim, a gente sabe o que sabe agora, mas eu já aprendi que o eu sei agora, no fundo, é uma dúvida.


Comments

6 respostas para ““Não escrevo para manter o mundo igual, escrevo porque quero mudar alguma coisa”, diz Valter Hugo Mãe”

  1. Avatar de Gael Nietsche
    Gael Nietsche

    Tive contato com a obra de Valter Hugo Mãe, através do programa de entrevistas da Brilhante Bia Correa do Lago, achei a entrevista um achado nas noites de sábado.
    E agora a entrevista com Valter Hugo na Brasileiros, simplesmente formidável.
    Parabéns a Brasileiros.

  2. Comprei um livro do Vitor Hugo Mãe. Aleatoriamente e achei sensacional. Agora li a entrevista dele e percebi quão fantástico ele é. Adorei.

  3. […] “Não escrevo para manter o mundo igual, escrevo porque quero mudar alguma coisa”, diz Valter Hugo Mãe […]

  4. Avatar de Aline Oliveira
    Aline Oliveira

    Não achei o nome do jornalista, mas quero dar os parabéns para quem fez esta entrevista.

    1. Avatar de Vinicius Felix
      Vinicius Felix

      Agora a matéria está assinada, Aline =)
      Muito obrigado.

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