Prazer, política e Naomi Wolf

A incrível Naomi, em Brasília.
A incrível Naomi, em Brasília.

Energia. É a primeira palavra que vem à cabeça quando se conhece Naomi Wolf, possivelmente a feminista mais comentada no momento. Desde que chegou à Brasília para a II Bienal do Livro e da Leitura como uma das principais convidadas, ela não parou um segundo sequer. Sorridente e expansiva, aproximou-se de todos os que surgiam à sua volta para fazer perguntas sobre o Brasil, a política local e a situação da mulher no país. Sempre com o celular na mão, chegou a entrevistar algumas pessoas, como Rick Goodwin, um dos jornalistas do saudoso Pasquim, que estava ali justamente com uma singela mas excelente mostra de cartuns do combativo folhetim. Ou Nana Queiroz, que lançou a campanha “Eu não mereço ser estuprada”, depois da pesquisa do Ipea, a qual mostrou que muitos brasileiros acham justificáveis abusos à mulher que se veste de modo “provocante”.

Sem vergonha de sua ignorância, Naomi, que é também ativista por direitos civis nos EUA, tendo sido presa enquanto participava do Occupy Wall St., mostrava espanto genuíno com revelações do tipo “os EUA estavam por trás do golpe militar no Brasil”, ou “a própria presidente Dilma foi torturada”. E passou a se empenhar ainda mais nas suas investigações informais, seja no espaço comum do Hotel Nacional ou nos corredores da Bienal (excelente em muitos aspectos, especialmente na programação), montada sob tendas na área da Esplanada dos Ministérios.

Sua palestra, com mediação da antropóloga Débora Diniz, foi um show digno de programa de auditório – com a diferença fundamental de que os assuntos tratados eram da maior seriedade. Muito à vontade em seu papel de missionária pela quebra de tabus sexuais e pela defesa dos direitos das mulheres, ela conquistou a enorme plateia que transbordava para fora, com um discurso direto, olho no olho, simpatia e clareza.

vaginacapaContou das dificuldades que seu livro, Vagina; uma Biografia teve de enfrentar nos EUA, quando foi lançado há dois anos, e no resto do mundo, não apenas por causa do nome que estampa a capa – propositalmente explícito – mas também por conta do primeiro capítulo, em que ela fala de sua experiência pessoal, o que a levou a pesquisar a fundo os caminhos neurais entre o cérebro e as diversas partes do órgão sexual feminino. Outra grande contestação ao seu livro veio de países mais religiosos, nos quais a associação da vagina com o sagrado em antigas culturas – assunto de outro dos capítulos – foi mal vista.

Quando chegou o momento de responder a dúvidas da plateia, ela, que já estava de pé desde o começo, buscando um contato mais próximo com os presentes, fez questão de aproximar-se de quem fazia a pergunta. Houve quem perguntasse da sexualidade de transgêneros e pessoas com deficiência, quem mencionasse a campanha da Adidas para a  Copa (já retirada do ar), que rebaixava a mulher brasileira como objeto sexual para turistas (ao que ela imediatamente pediu boicote à marca), e quem quisesse discutir as divisões dentro do próprio feminismo. A esta última questão, ela, que é claramente de esquerda, respondeu: “Você pode ser de direita ou esquerda e ser feminista. É preciso criar um ambiente onde todas são bem-vindas, unidas por uma causa em comum”.

A causa comum foi de fato abraçada por todos os que a ouviram. Muito aplaudida em diversos momentos, ao final ela foi literalmente abraçada por inúmeras jovens que se sentiram representadas e viram em Naomi um modelo a seguir.  


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