O ministro das Relações Exteriores da Holanda, Bert Koenders, afirmou neste domingo (18) – via nota oficial – que vai convocar o embaixador do país europeu na Indonésia, Nikolaos van Dam, para voltar a Amsterdã para consultas. No protocolo das relações internacionais, o gesto é compreendido como insatisfação de um governo para com o outro. A medida foi tomada por causa da execução de Ang Kiem Soei, neste domingo (18), preso desde 2003 em Jacarta acusado de participar de uma quadrilha que traficava ecstasy para vencer na capital do país asiático. O governo brasileiro tomou a mesma decisão na tarde de sábado (17), após o fuzilamento de Marco Archer Moreira.
“A Holanda continua a ser contra a pena de morte e a execução de prisioneiros. É um castigo cruel e desumano, o que representa uma inaceitável negação da dignidade humana e da integridade”, afirmou Koenders. “A Holanda vai prosseguir com seus esforços para combater a pena de morte na Indonésia e em todo o mundo”, completou o ministro.
Segundo o jornal holandês De Telegraaf, o governo do país europeu também pediu clemência ao presidente indonésio. Joko Widodo, antes das execuções. Ainda de acordo com o diário, Ang Kiem Soei não encontrou ninguém da sua família antes de morrer, na madrugada deste domingo (18), no horário local, em Cilacap, distante 400 quilômetros da capital, Jacarta. O único acompanhante de Soei foi seu advogado, o holandês Bart Stapert, que avisou ao governo holandês que seu cliente estava agradecido pelo esforço que o país havia feito por ele.
Neste domingo, autoridades da Holanda manifestaram repúdio ao caso, assim como no Brasil. O parlamentar Sjoerd Sjoerdsma, líder do partido de situação, disse que as relações entre os dois países serão afetadas com a morte de Soei. “É um castigo cruel e desumano e terá consequências graves no relacionamento entre os dois países”, disse. Um dos principais políticos do país, Harry van Bommel, do Partido Socialista, afirmou que há possibilidade de cortar relações bilaterais com a Indonésia. “Foi a pior decisão tomada pelo governo indonésio. Agora, acredito que devemos cortar as relações comerciais ou pelo menos considerar esta hipótese”, disse.
Os governos de Nigéria, Malauí e Vietnã ainda não se pronunciaram sobre a morte dos cidadãos de seus países. Além do brasileiro Marco Archer Moreira e do holandês Ang Kiem Soei, estavam na lista de executados dois nigerianos, um vietnamita e um malaui.
Veja a nota oficial do Ministério das Relações Exteriores da Holanda sobre o caso:
A Holanda condena a execução do Sr. Ang Kiem Soei na Indonésia. É profundamente triste que ele e outros cinco prisioneiros tenham sido condenados à morte. Simpatizamos com suas famílias, que, depois de anos de incerteza, vivem um resultado dramático.
A sentença de morte foi um dos itens da agenda de reuniões de representantes holandeses com nossos colegas indonésios. O governo da Holanda tem usado todos os meios possíveis para convencer as autoridades indonésias a cancelar a pena de morte. Mais do que isso, tem feito de tudo para impedir a sua consumação. Sua Majestade, o Rei Willem-Alexander, procurou o presidente da Indonésia, Joko Widodo, para falar sobre Ang Kiem. O primeiro-ministro, Mark Rutte, também escreveu uma uma carta ao presidente Widodo e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Bert Koenders, conversou várias vezes com o presidente. A embaixada holandesa em Jacarta procurou contato com as autoridades locais para falar sobre os presos condenados à morte. Koenders também falou com seus colegas provenientes dos países que também tinham cidadãos na lista da morte. O ministro, por fim, enviou um funcionário especial a Indonésia para tratar da execução do Sr. Ang Kiem Soei com as autoridades.
Tudo o que fizemos não levou aos resultados positivos que esperávamos. É trágico e muito decepcionante. Em resposta, convocamos o embaixador holandês em Jacarta para consultas temporariamente e também chamamos o Encarregado de Negócios da Indonésia na Holanda para explicações no Ministério de Negócios Estrangeiros da Holanda. O Parlamento já está ciente do caso.
A Holanda é e continua a ser fundamentalmente contra a pena de morte e sua execução. É um castigo cruel e desumano, que representa uma inaceitável negação da dignidade humana e integridade. A Holanda vai prosseguir os seus esforços para combater a pena de morte na Indonésia e em todo o mundo.
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