Ano difícil é tema de discursos em Assembleia Geral da ONU

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU. Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU. Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR

As dificuldades políticas, econômicas e sociais eclodidas até agora em 2014 foram as bases dos discursos das autoridades que abriram a 69ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nesta quarta-feira (24): entre elas, foram lembrados o surto descontrolado do vírus ebola, na África Ocidental, a queda do avião da Malaysia Airlines em território controlado por rebeldes da Ucrânia, o conflito armado entre Israel e Palestina, a expansão do grupo extremista Estado Islâmico na Síria, a crise financeira de alguns países e os recentes protestos na Venezuela. De acordo com a ordem do dia estipulada pela Nações Unidas, 34 dirigentes de países falaram na sessão desta quarta. O documento com a programação oficial pode ser acessada clicando aqui.

O encontro foi aberto oficialmente pelo secretário-geral da entidade, o sul-coreano Ban Ki-Moon, com cerca de uma hora de atraso. Segundo o protocolo passado aos jornalistas internacionais, a reunião começaria às 9h, mas teve início apenas próximo das 11h. Na transmissão oficial da ONU, pela internet, uma comitiva africana – que não foi revelada – chegou a brigar com os seguranças na entrada do salão onde acontece a assembleia. Na tribuna, Moon usou palavras fortes para se referir aos acontecimentos mundiais até agora, chegando a dizer que “está sendo um ano horrível para os princípios consagrados na Carta das Nações Unidas”. Ele também lembrou que, desde a Segunda Guerra Mundial (1938-1945), nunca houve tantos refugiados e pessoas distantes de suas casas como neste momento, e falou sobre conflitos internos em países africanos.

“Os fantasmas da Guerra Fria voltaram a nos rondar. Temos visto que grande parte da Primavera Árabe se desembocou em atos de violência. A diplomacia está na defensiva, pressionada por quem crê na violência. Depois da última tragédia em Gaza, a relação entre palestinos e israelenses parecem estar mais polarizadas do que antes, e enquanto não conseguirmos salvar essa relação, as hostilidades serão permanentes. No Sudão do Sul, a luta pelo poder político está cobrando a vida de milhares de pessoas, na República Centro-Africana, há uma população traumatizada e na Somália uma coalização de estados africanos estão enfrentando o grupo terrorista Al-Shabaab“, disse ele, citando dificuldades também em Mali, Nigéria, Iraque, Síria e Ucrânia.

Em seguida, mantendo a tradição iniciada com o ex-chanceler do Brasil, Oswaldo Aranha, um dos fundadores da ONU, a presidente Dilma Rousseff foi a primeira chefe de Estado a falar na tribuna. Em seu discurso, a presidenta brasileira não deixou de salientar a consolidação da democracia do País com a sétima eleição seguida para o Executivo, a superação da fome, dado divulgado pela FAO na semana passada, e o aumento de vagas em universidades nacionais, mas o que chamou a atenção da comunidade internacional foram as críticas feitas de forma indireta aos bombardeios estadunidenses na Síria.

“A atual geração de líderes mundiais – a nossa geração – tem sido chamada a enfrentar importantes desafios vinculados aos temas da paz, da segurança coletiva e do meio ambiente. Não temos sido capazes de resolver velhas contendas nem de impedir novas ameaças. O uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos. Isso está claro na persistência da Questão Palestina; no massacre sistemático do povo sírio; na trágica desestruturação nacional do Iraque; na grave insegurança na Líbia; nos conflitos no Sahel e nos embates na Ucrânia”, disse ela.

Depois de Dilma, subiu ao palanque o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, que também provocou debates com suas palavras. Chamou a atenção o excesso de críticas que fez à Rússia, assim como já havia sido em julho, quando caiu o Boeing da Malaysia Airlines na Ucrânia. Obama disse novamente que os russos estão armando rebeldes ucranianos e que as atitudes de Moscou lembram o tempo em que os países invadiam territórios vizinhos. Logo no início, ele chegou a falar que o mundo está em uma encruzilhada. “Estamos hoje aqui reunidos, nas Nações Unidas, e temos uma escolha para fazer. Podemos renovar o sistema internacional que já nos deu tantos progressos, ou deixarmo-nos ser puxados para trás, para a instabilidade. Podemos reafirmar a nossa responsabilidade coletiva para enfrentar os problemas globais ou deixar que sejamos inundados por mais problemas. Para a América, a escolha é clara. Escolhemos a esperança e não o medo. Não vemos o futuro como algo que não controlamos, mas como algo que podemos moldar para tornar melhor, através de um esforço coletivo”, declarou.

Entre os latino-americanos, a presidente chilena, Michelle Bachelet, a sexta a falar, centrou o seu discurso nos problemas mundiais vividos neste anos, e sequer lembrou do atentado terrorista em uma estação do metrô de Santiago que deixou sete pessoas feridas no início do mês. “Vivemos um século de crise, com consequências humanitárias devastadoras. Guerras regionais, tensões, crises humanitárias, étnicas e religiosas, entre outros desafios”, disse. 

Já o presidente do México, Enrique Peña Nieto, criticou a própria ONU, dizendo que a entidade deve “se atrever a mudar para melhorar” e que “mudar nunca é fácil, ainda mais quando se necessita de uma transformação profunda, que depende da múltiplos atores”.

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, dedicou a maior parte de seu discurso defendendo-se das acusações sobre a dívida externa e criticando os credores que ganharam ação contra o país na Justiça dos EUA. A presidenta acusou os credores que não aderiram à reestruturação da dívida de “terroristas econômicos e financeiros”. “Os fundos ‘abutres’ que hostilizam, geram rumores, infâmias e calúnias, atuam como desestabilizadores, uma espécie de terroristas financeiros”, falou.

Da mesma forma, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, usou seu tempo no palanque da Assembleia Geral da ONU para falar sobre a crise que viveu o país nos primeiros meses de 2014. Ele também criticou duramente a postura do governo estadunidense, assim como já havia feito antes da viagem a Nova York. “Há um novo regionalismo surgindo na América Latina” disse.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, também levou um antigo problema do seu país com um vizinho territorial ao palanque: a saída para o mar. Ele, no entanto, evitou criticar o Chile, apesar de dizer que “a demanda boliviana não busca alterar os limites e fronteiras, como pretende fazer crer o governo do Chile”. No final do dia, a presidência chilena emitiu uma nota respondendo a Evo.

Nesta quinta-feira (25), outros 37 chefes de Estado vão falar na reunião da ONU. Entre eles, os esperados discursos do primeiro-ministro britânico, David Cameron e do presidente do Irã, hassan Rouhani. Entre os latino-americanos, falarão os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos; do Peru, Ollanta Humala e do Panamá, Juan Carlos Rodríguez.


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