Ataque na França: “Uma bola de boliche” que deixa 84 mortos e divide a classe política

O caminhão atropelou a multidão por dois kilometros - Foto: Twitter: @m6info
O caminhão atropelou a multidão por dois quilômetros – Foto: Twitter: @m6info

Era dia de festa nacional. Como todo ano, franceses se reúnem para comemorar a Tomada da Bastilha, em 1789, assistindo a queimas de fogos por todas as partes do território. Mas às 22h30 de quinta-feira (14) a festa se transformou em tragédia em Nice, sul da França: um caminhão de 19 toneladas avançou pela famosa Avenida Côte d’Azur e atropelou uma multidão por mais de dois quilômetros antes de o motorista ser morto a tiros pelas autoridades francesas.

Testemunhas e mídia descrevem cenas de horror após o ataque que deixou pelo menos 84 mortos e 200 feridos. Entre eles, 30 crianças. “Era como se fosse uma bola de boliche derrubando tudo no passeio”, descreveu uma testemunha ao lembrar que o caminhão atropelou as pessoas enquanto elas estavam de costas.

Na noite de ontem, vários vídeos foram postados nas redes sociais que mostram dezenas de corpos estendidos na calçada e na avenida, reservada excepcionalmente aos pedestres para a festa. A secretária de Estado, Juliette Meadel, já fez um apelo para que as pessoas parem de compartilhar essas imagens em respeito aos mortos e a seus familiares.

Ao volante

O motorista do caminhão já foi identificado: trata-se de um franco-tunisiano de 31 anos, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, conhecido pelos serviços de inteligência por crimes de violência conjugal. Uma carteira de motorista foi encontrada dentro do caminhão junto com um cartão de crédito, um revólver e armas falsas ou fora de uso. Uma busca na casa de Bouhlel já foi providenciada.

O ataque deixou 84 mortos, 200 feridos. Entre eles 30 crianças - Foto: Twitter: L'Obs
O ataque deixou 84 mortos, 200 feridos. Entre eles 30 crianças – Foto: Twitter: L’Obs

O ataque ainda não foi reivindicado pelo Estado Islâmico, mas o presidente François Hollande, em declaração oficial, cravou se tratar de um ataque terrorista. Hollande, que tinha acabado de anunciar a suspensão do Estado de Emergência na tarde de ontem, o prorrogou por mais três meses.  “A França foi atacada por essa nova tragédia, está horrorizada pelo que aconteceu, essa monstruosidade que consiste em utilizar um caminhão para matar, deliberadamente matar dezenas de pessoas que vieram simplesmente celebrar o 14 de Julho. A França chorou, está ferida, mas é forte, e sempre será mais forte que os fanáticos que a atacaram hoje”, disse.

Solidariedade

Os comerciantes da região logo após o ataque abriram as portas dos restaurantes para ajudar os feridos. No Twitter, internautas utilizaram a hashtag “Portas Abertas Em Nice” (#portesouvertesNice) para indicar lugares seguros para as pessoas se refugiarem. A outra, #RechercheNice (Pesquisa em Nice), para familiares e amigos de pessoas que estavam sem receber notícias.

Com #PrayForNice (Rezem for Nice), franceses e internautas do mundo prestam solidariedade às vítimas e às famílias. A hashtag já domina os Trending Topics e é uma das mais compartilhadas no momento.

Política

A oposição ao governo, representada pelo partido de direita Les Républicains, criticou as medidas tomadas pelo presidente. Alain Juppé, prefeito de Bordeaux, primeiro-ministro da França sob Jacques Chirac, disse que “se todas as medidas necessárias tivessem sido tomadas, o ataque nunca teria acontecido”.

François Fillon, primeiro-ministro sob Nicolas Sarkozy, disse que “não podemos fazer a guerra e a festa ao mesmo tempo”. Fillon tinha sugerido, por exemplo, a proibição de áreas reservadas para os fãs durante a Eurocopa devido às ameaças terroristas.
Para Marine Le Pen, da Frente Nacional, trata-se de uma “guerra contra o flagelo do fundamentalismo islâmico”. A sobrinha dela, a deputada Marion Maréchal Le Pen, disse que “marchas e velas brancas não são mais suficientes”. Depois dos ataques de 2015, ao Charlie Hebdo e do Bataclan, a classe politica se uniu. Nesta sexta-feira (15), o que existe é divisão.


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