Um voto de reviravolta que arrisca derrubar a decantada estabilidade do tradicional modelo eleitoral do Reino Unido. Assim se anuncia o pleito britânico do próximo dia 7 de maio, cujo resultado parece ser incerto como nunca.
O equilíbrio político baseado na alternância entre a direita conservadora e a esquerda trabalhista está destinado a desaparecer. Nenhum dos dois partidos parece capaz de, como sempre ocorreu no passado, alcançar a maioria de 326 assentos na Câmara dos Comuns, número necessário para uma legenda conseguir governar sem imprevistos ou alianças muitas vezes desconfortáveis.
O Executivo atual, comandado pelo primeiro-ministro David Cameron, já é fruto de uma coalizão entre o Partido Conservador, liderado pelo premier, e o Liberal Democratas, de Nick Clegg. Mas desta vez o eleitorado está dando um salto ainda maior rumo a um sistema feito de alianças entre diversas siglas, um modelo vigente em boa parte da Europa continental e para o qual os súditos de Elizabeth II sempre olharam com desconfiança, às vezes até com um ar de superioridade.
Em plena retomada econômica, o Reino Unido acena com um crescimento de 2,5% em 2015 e uma taxa de desemprego de 5,6%, números que fortalecem Cameron. Por isso, o premier propõe seguir a receita de contenção das despesas e de diminuição da pressão fiscal.
Além disso, os conservadores tentam assustar a população com previsões de caos econômico, gastos indiscriminados com bem-estar social e mais impostos para todos em caso de vitória do Partido Trabalhista, liderado por Ed Miliband. E o que eles chamam de caos poderia ficar ainda pior se a legenda de centro-esquerda tiver de se juntar a grupos mais extremistas para formar um governo. Entre os candidatos a possíveis aliados de Miliband está Nicola Sturgeon, líder do Partido Nacional Escocês e de uma região marcada pelo seu caráter progressista.
A sucessora de Alex Salmond se posiciona abertamente contra a austeridade e a favor do estado de bem-estar social. Já o trabalhista aponta o dedo contra a “retomada para poucos” de Cameron e cobra que os benefícios da recuperação econômica sejam ampliados a todos.
Segundo ele, grandes parcelas da população viram sua condição de vida piorar nos últimos anos, como provaria o crescente número de pedidos por comida por parte de indigentes. Seu partido defende mais investimentos em saúde e educação, além de uma carga fiscal maior para os mais ricos.
As questões financeiras ainda estão ligadas a outros temas fundamentais nessa campanha: Europa e imigração. Cameron prometeu convocar um referendo sobre a permanência do país na União Europeia em 2017, caso vença nas urnas, e pretende renegociar suas relações com Bruxelas, buscando limitar a entrada de imigrantes no Reino Unido.
A UE e seu principal membro, a Alemanha, são contra a ideia, que viola o princípio de livre circulação no bloco, mostrando que o trabalho do primeiro-ministro não será fácil.
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