Execução de 47 terroristas inflama o Oriente Médio

Foto: Ayman Mat
Manifestantes iranianos atiraram coquetel molotov no consulado da Arábia Saudita. Foto: Ayman Mat-Fotos Publicas

No segundo dia do ano, o governo da Arábia Saudita surpreendeu o mundo ao executar 47 pessoas de seu próprio país, todas condenadas por terrorismo. A atitude não foi bem vista pelos vizinhos, principalmente o Irã. É que um dos homens executados foi o religioso xiita Nimr Baqir al-Nimr, alto líder da oposição do regime saudita, que passou anos estudando teologia naquele país.  

A resposta veio no mesmo dia por meio do ministro de Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Ansari Jaber. Ele afirmou que a Arábia Saudita iria pagar um “preço elevado” pela execução de al-Nimr: “O governo saudita apoia, por um lado, os movimentos terroristas e extremistas e, ao mesmo tempo, utiliza a linguagem da repressão e da pena de morte contra os seus opositores internos (…) ele [governo] vai pagar um preço elevado por estas políticas” disse. No dia seguinte a Arábia Saudita rompeu relações diplomáticas com o Irã, após a invasão da embaixada do país em Teerã.

O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, foi a público dizer que está “profundamente consternado” com a execução coletiva e pediu para que todos os líderes da região tentem evitar o agravamento das tensões. Na União Europeia, as manifestações foram de preocupação. “O caso específico do xiita Nimr al-Nimr levanta sérias preocupações relativamente à liberdade de expressão e ao respeito de direitos civis e políticos básicos, que devem ser salvaguardados em qualquer situação, mesmo no âmbito da luta contra o terrorismo”, disse a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em comunicado.

Em Londres, dezenas de pessoas se manifestaram em frente à Embaixada da Arábia Saudita contra as execuções. A oposição parlamentar da chanceler alemã Angela Merkel pediu o fim da aliança política e comercial da Alemanha com a Arábia Saudita. Para a oposição, o partido de Merkel mascara a relação com o país árabe com a desculpa de acabar com o Estado Islâmico como pano de fundo para objetivos maiores, disse Cem Ozdemir,  líder da oposição.

Enquanto isso, o Iraque incendiava. Em menos de um dia, protestos e conflitos violentos tomaram conta da região. Ainda no sábado, a polícia iraniana prendia 40 pessoas após um ataque contra a Embaixada da Arábia Saudita em Teerã.

Era uma resposta aos manifestantes que protestavam contra a morte do líder xiita. Eles atiraram garrafas de “coquetel molotov” em direção ao prédio. Na mesma noite, 16 combatentes do Estado Islâmico foram mortos em confrontos com uma coligação militar árabe-curda no norte da Síria. 

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, condenou a execução de al-Nimr ao afirmar que os sauditas sofrerão “uma vingança divina” pelo ato. “Sem dúvidas, o ilegítimo derramamento de sangue deste mártir inocente terá um efeito rápido, e uma vingança divina se abaterá sobre os políticos sauditas”, disse Khamenei.

Protestos

No domingo (3), mais de mil pessoas protestaram em dois locais de Teerã contra a execução do líder religioso. Eles se concentraram perto da Embaixada da Arábia Saudita, apesar da interdição do governo para evitar novos incidentes, após o ataque ao prédio ocorrido à noite. 

As forças antimotim conseguiram impedir os manifestantes de se aproximar da representação diplomática saudita em Teerã. Durante o protesto, os manifestantes gritavam “morte a Al-Saud”, o nome da família governante em Riade, e queimaram bandeiras norte-americanas e israelenses.

Se no ocidente as execuções na Arábia Saudita intensificaram o debate sobre direitos humanos, no Oriente Médio o terrorismo doméstico pode ser a fagulha que faltava para incendiar uma região transbordando de petróleo. 


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