A União Europeia está morta. Longa vida à União Europeia!

Decisão de brancos e velhos? - Imagem: Alma de Viajante.com/Divulgação
Decisão de brancos e velhos? – Imagem: Alma de Viajante.com/Divulgação

Os eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido deve sair da União Europeia, dando um passo que nunca foi dado por nenhum outro país em meio século de história da instituição. Mais de 17 milhões de britânicos (52%) votaram a favor do “Brexit”, segundo os resultados oficias anunciados hoje. A ruptura com o bloco europeu demorará de dois a três anos para se concretizar.

Trata-se de uma clara e significativa vitória do “vox populi” contra a opinião majoritária das elites políticas, econômicas e sociais do país, direita e esquerda confundidas, que militavam pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Foi um voto profundamente reacionário e emocional, uma procura infantil pela segurança ilusória de um Reino Unido imperial e protegido por ser novamente uma ilha. Agora o Reino Unido vai ter de enfrentar três enormes desafios.

A economia mundial é cada vez mais globalizada. Sair do mercado europeu de 500 milhões de consumidores para tentar encontrar a prosperidade sozinho é, obviamente, um risco absurdo. O presidente norte-americano, Barack Obama, alertou que a Grã-Bretanha ficará “no fim da fila” para todos os acordos comerciais futuros. Dias sombrios em termos de situação econômica e desemprego no Reino Unido se aproximam.

A unidade e a identidade do Reino Unido vão ser profundamente questionadas. Mais de 62% dos eleitores da Escócia e da Irlanda do Norte votaram contra da saída da U.E. Os independentistas escoceses, muito representativos, já anunciaram que pediram a independência para poder manter uma Escócia livre dentro da União Europeia.

A unificação de Irlanda do Norte com Irlanda, membro ativo e determinado da União Europeia, voltará a ser tema de atualidade. Esse plebiscito pode deixar Inglaterra fora de duas uniões, a europeia e a britânica.

A vitória do Brexit é a vitória da população velha e branca, contra a vontade da parte jovem e multicultural do povo britânico. A análise do resultado da votação mostra uma fratura geracional marcada. Nunca é saudável ver os velhos, de idade e de pensamentos, definir o futuro de um país. Até agora, no aspecto internacional, só Donald Trump e os lideres dos partidos de extrema-direita francês e holandês mostraram entusiasmo com o resultado da votação.

A União Europeia, com Alemanha e França em primeira linha, vai ser implacável nas negociações de saída do Reino Unido. Seria ilusório esperar um divórcio amigável, o castigo deve ser exemplar para desanimar qualquer futuro desejo de ruptura, em qualquer outro país membro da União.

Mas essa votação é também uma terrível derrota do projeto europeu. A União Europeia e as suas instituições fracassaram na hora de convencer as opiniões públicas da pertinência de suas respostas às crises econômicas, sociais e migratórias que vive o espaço europeu.

O projeto europeu se perdeu no meio de uma gestão exclusivamente tecnocrática e estreita dos desafios que aterrorizam os povos do velho continente. A Europa não tem mais alma, não tem projetos para sonhar e desafiar, só tem normas, leis e funcionários. O último verdadeiro projeto, um imenso sucesso, foi a moeda comum. Desde a criação do euro, em 2002, nenhum outro avanço nos fez crescer juntos.

Na história da construção da União Europeia, cada crise foi uma oportunidade de resolver as dificuldades e desbloquear os avanços necessários que os egoísmos nacionais impossibilitavam.

O Reino Unido faz parte, intimamente e definitivamente, da história da Europa. Dentro ou fora da União Europeia vamos todos torcer para que o povo britânico saia dessa imprevisível situação da melhor maneira possível.

Que esse voto abra a porta a um novo dinamismo do projeto europeu. A União Europeia está morta. Longa vida à União Europeia!

*François Huteau é cientista político e economista, doutor pelo Institut Etudes Politiques de Paris (Sciences-Po)


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